Desde 21/07/2014, está em
operação o sistema de reconhecimento facial dos usuários de transporte coletivo
de Florianópolis, capital catarinense. O sistema fotografa o cidadão que possui
desconto ou tarifa social no momento em que passa na catraca. Depois, essa foto
é comparada com o rosto do titular do cartão. Não sendo a mesma pessoa, o
sistema bloqueia esse cartão.
Pois bem. Apenas dez dias depois
de implantado esse sistema, já foram bloqueados mais de 500 cartões devido a
fraudes. Na imensa maioria dos casos, os fraudadores utilizaram cartões de
estudantes, mas também houve quem utilizasse cartões de idosos e deficientes. E
isso que a implantação do novo sistema foi amplamente divulgada pela imprensa e
pelas redes sociais. Se, com tantos avisos e alertas, mais de 500 cartões foram
utilizados indevidamente, imagine-se como era antes da implantação do sistema.
Não deveriam ter avisado ninguém sobre o novo sistema. Seriam tantas pessoas
com os cartões bloqueados que daria para encher um estádio de futebol.
Definitivamente, não tem
desculpa. Isso é corrupção, entendida essa no seu exato sentido, ou seja, a
prática de um ato ilícito para obter uma vantagem indevida para si ou para
outrem. Ora, quem, não sendo estudante, nem idoso, nem deficiente, utiliza o
cartão de um terceiro nessas condições para se beneficiar do preço reduzido da
passagem é corrupto. E aquele que deliberadamente cede o seu cartão para uso
indevido de outra pessoa é corrupto também. Ou seja, além daquelas 500 pessoas
que utilizaram o cartão de terceiros, há centenas desses terceiros que cederam
o uso do seu cartão conscientemente. Vejam que o número de estelionatários
(sim, além de corruptos, essas pessoas são, em tese, estelionatárias) pode
chegar a mais de mil pessoas. É um número assombroso de malandros.
É disso que estou falando quando afirmo
que a corrupção está espalhada no seio da sociedade brasileira e não apenas no
meio político, como pensam alguns. Só que no dia a dia o brasileiro utiliza um
eufemismo para tentar disfarçar essa corrupção: é o famigerado “jeitinho
brasileiro”, do qual muitos se orgulham. O “jeitinho“ ainda é encarado como
algo legal, bacana, uma malandragem sem maldade, afinal o mundo é dos espertos,
daqueles que obtém vantagem em tudo, mesmo que indevida. Assim é que o
brasileiro dá um jeitinho para furar uma simples fila de banco, conseguir um atestado
para faltar ao trabalho, captar o sinal de TV a cabo do vizinho, pagar meia
entrada no cinema ou no transporte coletivo, não ser multado pelo guarda de
trânsito e por aí vai...
A diferença ética entre o
brasileiro que dá jeitinho e o político corrupto é tão tênue que um acaba se
identificando com o outro. No fundo, no fundo o brasileiro que pratica o
jeitinho não considera a corrupção um mal em si mesmo. Para esse tipo de
brasileiro, o mal está em não ser o beneficiário da corrupção... Enquanto a cultura
generalizada enxergar a malandragem como uma virtude, discursar contra a
corrupção é como semear no deserto.
Leandro Govinda
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