Os delatores da Operação Lava
Jato fizeram revelações estarrecedoras sobre os desvios de recursos da
Petrobrás. Porém, a revelação mais útil até agora foi feita pelo advogado de um
dos investigados, Mário Oliveira Filho, que nem é acusado de nada! Segundo o
causídico, sem propina não existe obra pública no Brasil. A afirmação, apesar
de revoltante, deve ser recebida com júbilo.
Aprendi em matemática - uma
ciência pouco estudada em tempos em que o saber se resume a conhecer letras de
funk - que a solução de qualquer problema passa, primeiro, por conhecer o
problema. No Brasil, parcela significativa da sociedade insiste em negar que a
corrupção está enraizada na cultura nacional. Nos idos de 1997, o embaixador norte-americano
no Brasil, Melvyn
Levitsky, já
alertava sobre os riscos derivados da corrupção endêmica no país. Diante desse
relato, o que fizeram os brasileiros? Ao invés de encarar o problema e buscar
soluções, preferiu-se
achincalhar o yankee ao argumento de que não conhecia as terras tupiniquins. Não
poderia ser diferente, afinal a única estratégia de quem não tem argumentos é
justamente desqualificar o opositor. Dessa vez, como a afirmação parte de um
brasileiro, o argumento não vai colar.
E que fique muito claro: quando
se diz que a corrupção é endêmica, isso significa que ser corrupto não é um
"privilégio" dos políticos e empreiteiros. O cidadão que forja um
atestado médico para não ir trabalhar; o sujeito que finge estar doente para se
"encostar" na previdência; o estudante que "compra" na
internet o seu trabalho de conclusão de curso; o funcionário público que
empresta a sua senha para outro colega bater o ponto eletrônico no seu lugar; o
comerciante que suborna o fiscal para fazer vistas grossas para as
irregularidades do seu estabelecimento. Essas e outras malandragens, tão comuns
no cotidiano, além de configurarem, não raro, condutas criminosas, não deixam
de ser espécies de corrupção. Porém, essas malandragens são confundidas com virtudes
e até ganharam um apelido carinhoso no Brasil: o jeitinho brasileiro.
Ao invés de continuar tentando
tapar o sol com a peneira, os brasileiros poderiam admitir logo que a corrupção
não existe apenas nos círculos mais elevados de poder da República, mas está
presente no dia a dia do cidadão comum que, visando sempre levar vantagem, acaba
contribuindo sobremaneira para esse estado de coisas. Se a sociedade reconhecer
esse mal generalizado, terá dado o primeiro passo para a cura.
Em tempo: o signatário vai tirar férias em dezembro e voltará a
ocupar esse espaço em 2015. Então, boas festas aos estimados leitores e até o
ano que vem!