quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A delação mais importante da Operação Lava Jato


Os delatores da Operação Lava Jato fizeram revelações estarrecedoras sobre os desvios de recursos da Petrobrás. Porém, a revelação mais útil até agora foi feita pelo advogado de um dos investigados, Mário Oliveira Filho, que nem é acusado de nada! Segundo o causídico, sem propina não existe obra pública no Brasil. A afirmação, apesar de revoltante, deve ser recebida com júbilo.

 

Aprendi em matemática - uma ciência pouco estudada em tempos em que o saber se resume a conhecer letras de funk - que a solução de qualquer problema passa, primeiro, por conhecer o problema. No Brasil, parcela significativa da sociedade insiste em negar que a corrupção está enraizada na cultura nacional. Nos idos de 1997, o embaixador norte-americano no Brasil, Melvyn Levitsky, já alertava sobre os riscos derivados da corrupção endêmica no país. Diante desse relato, o que fizeram os brasileiros? Ao invés de encarar o problema e buscar soluções, preferiu-se achincalhar o yankee ao argumento de que não conhecia as terras tupiniquins. Não poderia ser diferente, afinal a única estratégia de quem não tem argumentos é justamente desqualificar o opositor. Dessa vez, como a afirmação parte de um brasileiro, o argumento não vai colar.

 

E que fique muito claro: quando se diz que a corrupção é endêmica, isso significa que ser corrupto não é um "privilégio" dos políticos e empreiteiros. O cidadão que forja um atestado médico para não ir trabalhar; o sujeito que finge estar doente para se "encostar" na previdência; o estudante que "compra" na internet o seu trabalho de conclusão de curso; o funcionário público que empresta a sua senha para outro colega bater o ponto eletrônico no seu lugar; o comerciante que suborna o fiscal para fazer vistas grossas para as irregularidades do seu estabelecimento. Essas e outras malandragens, tão comuns no cotidiano, além de configurarem, não raro, condutas criminosas, não deixam de ser espécies de corrupção. Porém, essas malandragens são confundidas com virtudes e até ganharam um apelido carinhoso no Brasil: o jeitinho brasileiro.

 

Ao invés de continuar tentando tapar o sol com a peneira, os brasileiros poderiam admitir logo que a corrupção não existe apenas nos círculos mais elevados de poder da República, mas está presente no dia a dia do cidadão comum que, visando sempre levar vantagem, acaba contribuindo sobremaneira para esse estado de coisas. Se a sociedade reconhecer esse mal generalizado, terá dado o primeiro passo para a cura.

 

Em tempo: o signatário vai tirar férias em dezembro e voltará a ocupar esse espaço em 2015. Então, boas festas aos estimados leitores e até o ano que vem!

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Cuidado com a propaganda da Peugeot



Um cliente da Peugeot levou seu veículo na Concessionária autorizada e teve uma grande surpresa quando lhe falaram o preço da revisão. Tudo porque ele acreditou na publicidade da montadora de que as revisões dos veículos tinham preço fixo. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

Cliente – Bom dia! Vim trazer meu carro para a revisão dos 50.000 km.
Funcionário da Peugeot – Claro! A revisão básica para esse quilometragem custa R$ 534,00.
Cliente – Olha, eu tenho aqui comigo um folder da época em que vocês me venderam o carro, em 2012. Nessa propaganda, a Peugeot garante que as revisões têm preço fixo, de acordo com a quilometragem. No caso dos 50.000 km, a revisão básica custa R$ 351,00.
Peugeot – Permita-me dar uma olhada, por favor. Humm... Como eu suspeitava, essa tabela é de 2012.
Cliente – Lógico. Eu comprei o carro em 2012.
Peugeot – Pois é... Só que essa tabela muda todo ano.
Cliente – Ué?! Está escrito aqui no folder que a revisão tem preço fixo. Mas se a tabela muda toda ano, então o preço não é fixo como diz a propaganda...
Peugeot – O senhor não está entendendo. O preço é fixo. Só a tabela muda. Daí todo ano tem um novo preço. Mas esse preço é fixo, entende? Tabela, preço, são coisas diferentes.
Cliente – Hein?! Meu amigo, aqui no folder diz “Revisões Peugeot Preço Fixo”. Repare no tamanho garrafal dessas letras. Depois, tem uma tabela com os preços das revisões até 60.000km. O que isso significa?
Peugeot – Significa que, se o senhor tivesse feito as revisões no ano de 2012, esses seriam os preços praticados.
Cliente – Mas eu comprei o carro em meados do ano... Como é que eu iria rodar 60.000 km em menos de seis meses? E se eu tivesse comprado o veículo em dezembro, teria que rodar tudo isso em menos de um mês? Só se eu fosse um taxista e olhe lá...
Peugeot – Pois é, se o senhor fosse um taxista, talvez conseguisse. O senhor já pensou em ser taxista?
Cliente – O que?! Meu caro, não te parece lógico que esse preço fixo tenha que ser garantido até o cliente alcançar aquela quilometragem, independentemente do tempo? Isso não é propaganda enganosa?
Peugeot – Não, veja bem, o senhor é que entendeu errado.
Cliente – Ah tá, agora eu sou o culpado? Leia o que está escrito aqui no folder: “Adquira seu Peugeot e não tenha surpresas na hora das revisões”. Eu estou surpreso!
Peugeot – Pois é... O senhor está surpreso só porque não imaginou que a tabela iria mudar.
Cliente – Imaginar? Como imaginar? Meu Deus, aqui está escrito “Revisões Peugeot Preço Fixo”. Como é que eu iria imaginar que o preço seria variável, e não fixo??
Peugeot – É só o senhor pensar: como é que a Peugeot iria garantir a mesma tabela por anos a fio?
Cliente – Eu sei lá. Vocês fazem a propaganda, e eu tenho que dar explicação agora?
Peugeot – Sim, o comercial é da Peugeot, mas quem comprou o carro foi o senhor.
Cliente – O que??
Peugeot – Senhor, o preço é fixo, só a tabela que varia. Já expliquei isso ao senhor. Culpa da inflação...
Cliente – Inflação? De 50% em dois anos?
Peugeot – Ah tá... Agora, o senhor vai dizer que acredita nos números oficiais do governo? Se não está contente com a economia, deveria votar no candidato da oposição na próxima eleição...
Cliente – Hã? Do que você está falando?
Peugeot – Ora, o senhor que começou a falar de preços.
Cliente – MAS EU ESTOU FALANDO DOS PREÇOS DAS REVISÕES!!!
Peugeot – Ok, não precisa ficar nervoso.
Cliente – Olha, vocês não deveriam explicar esse negócio de “preço fixo, tabela variável” no momento da venda do produto?
Peugeot – Mas está no folder, senhor: Revisões Preço Fixo. Só a tabela varia, mas o preço da tabela é fixo. É tão difícil compreender?
Cliente – Mas aqui não diz que a tabela varia. Só diz “preço fixo”. Não seria mais honesto se vocês dissessem ao cliente que aquele preço fixo vai mudar no ano seguinte?
Peugeot – Honesto eu não sei, mas isso não ia pegar bem na propaganda, né?! Imagina: preço fixo, tabela variável. Não soa estranho para o senhor?
Cliente – Aham! Principalmente quando se ouve depois de já ter adquirido o carro. Vocês só falam o que interessa...
Peugeot – Exatamente! Agora, o senhor entendeu!! Como disse aquele ministro, “o que é bom a gente fatura e o que é ruim a gente esconde”!! Então, vamos fazer a revisão?
Cliente - #@%$!§&*

Os franceses da Peugeot estão no Brasil há poucos anos, mas parece que já aprenderam o jeitinho brasileiro. Aos estrangeiros que pretendem investir no Brasil, vai uma recomendação: desenvolvam a vacina contra a malandragem antes. Aos brasileiros que pensam em adquirir veículos da Peugeot, vai um alerta: não confiem na propaganda da Peugeot.