quarta-feira, 17 de setembro de 2014

“Bandido bom é bandido morto”




Quem não lembra dessa frase pronunciada pelo Capitão Nascimento, personagem de “Tropa de Elite”? No segundo filme, depois de uma operação realizada para conter uma rebelião em um presídio, que resultou na morte de alguns detentos, o Capitão Nascimento entra em um restaurante e, reconhecido pelas pessoas, é aplaudido de pé, pois, segundo o policial, "para o povo bandido bom é bandido morto". Há duas semanas, uma operação da polícia no pacato município de Governador Celso Ramos, no litoral catarinense, acabou  também com a morte de cinco assaltantes flagrados arrombando caixas eletrônicos. O prefeito da cidade elogiou a ação policial e, mais ou menos na linha do Capitão Nascimento, afirmou em entrevista que bandido não tem recuperação, dando a entender que, na sua opinião, matar o bandido é a solução para o problema da criminalidade.

Os grupos defensores dos direitos humanos quase sempre aduzem que criminosos devem ser tratados com humanidade, respeito e consideração. Para eles, a pena privativa de liberdade não deve ser só uma retribuição pelo crime cometido, mas muito mais um meio de regenerar o bandido. Tudo muito lindo no papel. O problema é que essa visão acadêmica é desconectada da realidade. No mundo real, a verdade é que, no Brasil, o direito penal não serve nem para punir nem para regenerar. Não pune porque as deficiências da investigação e a morosidade do julgamento fazem da sanção quase uma miragem. Não regenera porque os presídios são escolas do crime.

Esse é o sistema! Todo mundo sabe que o sistema penal não funciona. Todo mundo sabe que esse sistema precisa mudar. E todo mundo tem uma boa ideia para isso. Só que o bandido não dá trégua. Quer dizer, enquanto se discute um modelo ideal de combate ao crime, o criminoso está na rua agindo livre, leve e solto e aterrorizando a sociedade. A escalada da violência urbana associada à impunidade gera uma sensação permanente de insegurança nas pessoas. Daí porque essas pessoas começa a ver com bons olhos a ação enérgica e até truculenta da polícia contra os criminosos como o meio mais eficiente de combater o criminalidade.

Não é que a sociedade seja maligna e deseje verdadeiramente uma matança generalizada dos bandidos. É que paciência tem limite. O cidadão comum pode não entender de criminologia ou ciências penais, mas sabe muito bem o que é ter uma arma apontada para a cabeça por um deliquente que lhe rouba para consumir drogas. E para a vítima dessa violência é incompreensível, por exemplo, que o sujeito preso em flagrante seja solto no mesmo dia. Mas o sujeito não foi flagrado cometendo um crime? Pois é, coisas do sistema, é a justificativa que lhe apresentam.

Enquanto os teóricos se debruçam sobre livros e travam embates nos bancos acadêmicos sobre como tratar o infrator, a sociedade sofre a ação dos criminosos e observa incrédula a foto do bandido estampada em jornais com manchetes do tipo “assalto de cinema”, como se assaltar fosse agora uma arte respeitável! Rotular o bandido como uma praga irrecuperável não resolve o problema. Mas tratá-lo como estrela de cinema também não ajuda.

Leandro Govinda

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Os produtores de leite deram razão a Schopenhauer




Os consumidores de leite estão sendo vítimas de quadrilhas de produtores inescrupulosos que estão adulterando o produto com a adição de componentes químicos como formal, soda cáustica, álcool e água oxigenada, substâncias que podem causar doenças graves, como o câncer. Mas não são apenas os consumidores de leite cru que devem ficar preocupados. Essa conduta criminosa coloca em risco praticamente toda a população, inclusive os próprios produtores.

O leite possui inúmeros derivados, como a manteiga, o queijo, o iogurte, o requeijão, a nata, o creme de leite, entre tantos outros. A princípio, poder-se-ia pensar em simplesmente parar de consumir esses derivados até que a adulteração do leite seja contida pela ação efetiva das autoridades responsáveis pela fiscalização da produção. O problema é que, além dos derivados, o leite faz parte da receita de uma infinidade de pratos e guloseimas, de modo que muitas vezes se consome leite sem perceber. Strogonoff de carne, por exemplo, leva creme de leite, então deveria ser excluído do cardápio! Pizzas e lasanhas têm queijo: ambos descartados, portanto. Deus o livre de qualquer prato com molho branco devido à mortal combinação de manteiga, creme de leite e leite. Um simples pãozinho de queijo também seria arriscado, pois, como o próprio nome informa, é feito de "pão" e "queijo". Misto quente tem queijo, mas pode-se fazer um misto só com pão e presunto. Porém, o pão também pode ter leite! Ou seja, o misto teria que ser só presunto quente mesmo. E as sobremesas? Tomar um sorvete cremoso nem pensar. Bolos, tortas e brigadeiros teriam que ser abolidos do menu, já que todos têm o leite ou algum dos seus derivados como ingrediente.

Como se vê, é difícil eliminar o leite da dieta... Daí porque a adulteração desse produto coloca em risco toda a população, em maior ou menor grau, até mesmo esses criminosos produtores. E é isso que não se consegue compreender: será que esses bandidos não entendem que estão fazendo mal a eles próprios? Ou será que eles pensam que, não consumindo o leite que eles produzem, estariam livres de qualquer mal? Eles não percebem que o produtor vizinho pode estar fazendo a mesma coisa, de modo que o leite colocado na sua mesa também pode estar adulterado? Eles não enxergam que os próprios filhos podem estar consumindo na escola o leite que eles produziram com soda cáustica? Ou será que essas pessoas não têm família nem amigos e só comem arroz e feijão e bebem apenas água e suco natural?

A atitude inconsequente desses produtores me faz lembrar Arthur Schopenhauer, filósofo alemão, que certa vez admitiu não saber a resposta para uma pergunta formulada por um aluno em sala de aula. Diante da confissão de ignorância, o aluno confrontou o professor afirmando que ele deveria saber todas as respostas, afinal era detentor de uma sabedoria extraordinária. Sem titubear, o filósofo respondeu que a sabedoria humana era limitada e apenas a estupidez não tem limites. A prática criminosa dos produtores de leite não pode ser motivada apenas pela ganância, pois até a ambição desmedida tem freios. A adulteração do leite que os próprios produtores podem estar consumindo comprova que Schopenhauer tinha razão.

Leandro Govinda