quarta-feira, 18 de junho de 2014

Xingamentos e outras ofensas




No jogo de abertura da Copa do Mundo, a presidente Dilma Rousseff foi vaiada e xingada pela torcida brasileira. Quem assistiu à partida em casa, pode ouvir o coro da torcida mandando a presidente para aquele lugar, digamos, íntimo.  A presidente ficou incomodada porque o insulto que lhe foi dirigido “não pode ser sequer escutado pelas crianças e pelas famílias”. Muitos outros brasileiros se sentiram desconfortáveis com essa situação, porque era a imagem (e o som) do Brasil que estavam sendo transmitidos para bilhões de pessoas.

Ninguém dúvida que o palavreado utilizado pelos torcedores revela a sua pouca ou nenhuma educação. E não é de se estranhar, afinal o Brasil ostenta inúmeros títulos mundiais quando o assunto é má educação. No entanto, a falta de educação de algumas pessoas pode ser facilmente contornada, no caso, cobrindo-se os ouvidos.  Por isso, sinceramente, ouvir pessoas insultando outras é, dos males, o menor. Há ofensas muito piores do que xingamentos e que não podem ser evitadas simplesmente tapando as orelhas.

É ofensivo, por exemplo, gastar bilhões de reais na construção de estádios, enquanto milhares de escolas públicas não possuem sequer uma quadra de esporte no pátio (algumas nem pátio têm). É ofensivo erguer arenas monumentais que, depois da copa, servirão apenas para cultivar inço nos gramados. É ofensivo ver o governo mentir sistematicamente para fazer crer que as obras de infraestrutura e mobilidade urbana foram todas entregues, quando se sabe que mal e porcamente se concluiu apenas os estádios.

É ofensivo o governo oferecer a todos os jogadores de futebol campeões de 58, 62 e 70 (e seus descendentes) um prêmio de R$ 100.000,00 e uma aposentadoria no valor máximo da Previdência Social simplesmente porque ganharam aquelas copas, enquanto o brasileiro comum precisa trabalhar feito burro de carga até os 65 anos para receber um salário mínimo de aposentadoria (e nenhum prêmio...).

É ofensivo ver uma federação de futebol estrangeira reinar soberanamente no país acobertada por uma cláusula de irresponsabilidade geral. É ofensivo saber que essa mesma federação não vai pagar um mísero tostão de impostos e contribuições sobre o lucro bilionário que vai auferir com a copa, um dos eventos esportivos mais lucrativos do planeta, enquanto o povo brasileiro é achacado com uma carga tributária que lhe extorque quase 40% dos seus já parcos rendimentos.

Esses são só alguns dos insultos praticados diuturnamente contra os brasileiros. Mas essas ofensas não parecem incomodar a presidente, que, na qualidade de mandatária da nação, colaborou efusivamente para esse estado de coisas. Há um ditado que diz: “quem semeia ventos, colhe tempestade”. Os xingamentos que a presidente ouviu são apenas os frutos do que ela e seu antecessor plantaram quando, desconectados da realidade do país, resolveram aderir ao projeto da copa do mundo de modo tão irresponsável.

Leandro Govinda

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Que falta me faz um relho




Tive o desgosto de assistir recentemente na internet ao programa Altas Horas exibido em 18/05/2014, no qual se apresentou uma entrevista com cinco criminosos confessos: os famigerados pichadores (para quem quiser perder 10 minutos do seu tempo, segue o link abaixo). Coube ao vocalista do Jota Quest, Rogério Flausino, convidado desse mesmo programa, resumir muito bem a qualificação dessas pessoas: “uns idiotas”. Assistindo à entrevista, eu só conseguia lembrar do meu avô, um gaúcho de Bagé que não tolerava malcriação, repetindo uma frase que parecia um mantra: “que falta me faz um relho”.

Também lembrei de Schopenhauer, para quem a estupidez do ser humano não tem limites. E observando a atitude dos pichadores (que devem pensar que Schopenhauer é o nome de algum festival de chop) não se pode discordar do filósofo alemão. Eles pretendem se eternizar na memória das pessoas com a sua imundice. Que falta me faz um relho! De fato, quem consegue esquecer a sujeirada de um monumento histórico todo rabiscado com aquela tinta horrenda? Um dos pichadores parecia estar orgulhoso por ter sido reprovado e expulso da faculdade, uma vez que o seu trabalho de conclusão foi justamente pichar os prédios da instituição de ensino. Que falta me faz um relho! Como se vê, os pichadores tiveram oportunidades, chegaram até a cursar o ensino superior! Talvez o que lhes faltou foi inteligência para aproveitá-las. E talvez a revolta deles, no fundo, no fundo, decorra da consciência de que, exatamente por lhes faltar massa cinzenta, são seres absolutamente inúteis para a sociedade. Considerando-se o seu intelecto, chamar-lhes de idiotas é até um elogio.

Para os pichadores, o parâmetro de respeito é a transgressão. Se transgredir, eles respeitam. Que falta me faz um relho! Então, se um policial flagrar o pichador em ação e resolver transgredir os limites da lei aplicando-lhe uma longa surra de cassetete, presumo que o pichador não vai reclamar e vai até aplaudir a atitude do policial transgressor, um artista das cassetadas ao vivo e em cores! Os pichadores se autoproclamam artistas diferentes dos outros, libertários, transgressivos e revolucionários, que buscam o reconhecimento pela marginalidade. Que falta me faz um relho! Pois bem, é exatamente assim que a sociedade os vê: marginais. Aliás, é bom esclarecer que pichar é um crime ambiental previsto na Lei 9.605/1998 e punido com pena de prisão de 3 meses a 1 ano (art. 65). Ouvindo-os falando lamentei por ser uma pena tão leve para um crime tão cretino. O repúdio social a essa prática é tamanho que os pseudorevolucionários foram entrevistados em um estúdio, decerto para evitar o constrangimento das vaias do público ou quem sabe zelar pela integridade física dos entrevistados.

O que mais revolta, no entanto, é uma emissora de televisão de abrangência nacional veicular essa entrevista em um programa de auditório dirigido ao público adolescente e juvenil. Tratar esses marginais como estrelas, reservando-lhes um espaço nobre na mídia, é o atestado de que a programação da tevê brasileira assemelha-se ao lixo produzido pelos pichadores. Meu avô tinha razão: que falta me faz um relho...

Leandro Govinda