No jogo de
abertura da Copa do Mundo, a presidente Dilma Rousseff foi vaiada e xingada
pela torcida brasileira. Quem assistiu à partida em casa, pode ouvir o coro da
torcida mandando a presidente para aquele lugar, digamos, íntimo. A presidente ficou incomodada porque o
insulto que lhe foi dirigido “não pode ser sequer escutado pelas crianças e
pelas famílias”. Muitos outros brasileiros se sentiram desconfortáveis com essa
situação, porque era a imagem (e o som) do Brasil que estavam sendo
transmitidos para bilhões de pessoas.
Ninguém dúvida
que o palavreado utilizado pelos torcedores revela a sua pouca ou nenhuma
educação. E não é de se estranhar, afinal o Brasil ostenta inúmeros títulos
mundiais quando o assunto é má educação. No entanto, a falta de educação de
algumas pessoas pode ser facilmente contornada, no caso, cobrindo-se os
ouvidos. Por isso, sinceramente, ouvir
pessoas insultando outras é, dos males, o menor. Há ofensas muito piores do que
xingamentos e que não podem ser evitadas simplesmente tapando as orelhas.
É ofensivo, por
exemplo, gastar bilhões de reais na construção de estádios, enquanto milhares
de escolas públicas não possuem sequer uma quadra de esporte no pátio (algumas
nem pátio têm). É ofensivo erguer arenas monumentais que, depois da copa,
servirão apenas para cultivar inço nos gramados. É ofensivo ver o governo
mentir sistematicamente para fazer crer que as obras de infraestrutura e
mobilidade urbana foram todas entregues, quando se sabe que mal e porcamente se
concluiu apenas os estádios.
É ofensivo o
governo oferecer a todos os jogadores de futebol campeões de 58, 62 e 70 (e
seus descendentes) um prêmio de R$ 100.000,00 e uma aposentadoria no valor
máximo da Previdência Social simplesmente porque ganharam aquelas copas,
enquanto o brasileiro comum precisa trabalhar feito burro de carga até os 65
anos para receber um salário mínimo de aposentadoria (e nenhum prêmio...).
É ofensivo ver
uma federação de futebol estrangeira reinar soberanamente no país acobertada por
uma cláusula de irresponsabilidade geral. É ofensivo saber que essa mesma
federação não vai pagar um mísero tostão de impostos e contribuições sobre o
lucro bilionário que vai auferir com a copa, um dos eventos esportivos mais
lucrativos do planeta, enquanto o povo brasileiro é achacado com uma carga
tributária que lhe extorque quase 40% dos seus já parcos rendimentos.
Esses são só
alguns dos insultos praticados diuturnamente contra os brasileiros. Mas essas
ofensas não parecem incomodar a presidente, que, na qualidade de mandatária da
nação, colaborou efusivamente para esse estado de coisas. Há um ditado que diz:
“quem semeia ventos, colhe tempestade”. Os xingamentos que a presidente ouviu
são apenas os frutos do que ela e seu antecessor plantaram quando,
desconectados da realidade do país, resolveram aderir ao projeto da copa do mundo
de modo tão irresponsável.
Leandro Govinda