Tive o desgosto de
assistir recentemente na internet ao programa Altas Horas exibido em 18/05/2014,
no qual se apresentou uma entrevista com cinco criminosos confessos: os
famigerados pichadores (para quem quiser perder 10 minutos do seu tempo, segue
o link abaixo). Coube ao vocalista do Jota Quest, Rogério Flausino, convidado
desse mesmo programa, resumir muito bem a qualificação dessas pessoas: “uns
idiotas”. Assistindo à entrevista, eu só conseguia lembrar do meu avô, um
gaúcho de Bagé que não tolerava malcriação, repetindo uma frase que parecia um
mantra: “que falta me faz um relho”.
Também lembrei de Schopenhauer,
para quem a estupidez do ser humano não tem limites. E observando a atitude dos
pichadores (que devem pensar que Schopenhauer é o nome de algum festival de
chop) não se pode discordar do filósofo alemão. Eles pretendem se eternizar na
memória das pessoas com a sua imundice. Que falta me faz um relho! De fato,
quem consegue esquecer a sujeirada de um monumento histórico todo rabiscado com
aquela tinta horrenda? Um dos pichadores parecia estar orgulhoso por ter sido
reprovado e expulso da faculdade, uma vez que o seu trabalho de conclusão foi
justamente pichar os prédios da instituição de ensino. Que falta me faz um
relho! Como se vê, os pichadores tiveram oportunidades, chegaram até a cursar o
ensino superior! Talvez o que lhes faltou foi inteligência para aproveitá-las.
E talvez a revolta deles, no fundo, no fundo, decorra da consciência de que, exatamente
por lhes faltar massa cinzenta, são seres absolutamente inúteis para a
sociedade. Considerando-se o seu intelecto, chamar-lhes de idiotas é até um
elogio.
Para os pichadores,
o parâmetro de respeito é a transgressão. Se transgredir, eles respeitam. Que
falta me faz um relho! Então, se um policial flagrar o pichador em ação e
resolver transgredir os limites da lei aplicando-lhe uma longa surra de
cassetete, presumo que o pichador não vai reclamar e vai até aplaudir a atitude
do policial transgressor, um artista das cassetadas ao vivo e em cores! Os
pichadores se autoproclamam artistas diferentes dos outros, libertários,
transgressivos e revolucionários, que buscam o reconhecimento pela
marginalidade. Que falta me faz um relho! Pois bem, é exatamente assim que a
sociedade os vê: marginais. Aliás, é bom esclarecer que pichar é um crime
ambiental previsto na Lei 9.605/1998 e punido com pena de prisão de 3 meses a 1
ano (art. 65). Ouvindo-os falando lamentei por ser uma pena tão leve para um
crime tão cretino. O repúdio social a essa prática é tamanho que os pseudorevolucionários
foram entrevistados em um estúdio, decerto para evitar o constrangimento das
vaias do público ou quem sabe zelar pela integridade física dos entrevistados.
O que mais revolta,
no entanto, é uma emissora de televisão de abrangência nacional veicular essa
entrevista em um programa de auditório dirigido ao público adolescente e
juvenil. Tratar esses marginais como estrelas, reservando-lhes um espaço nobre
na mídia, é o atestado de que a programação da tevê brasileira assemelha-se ao
lixo produzido pelos pichadores. Meu avô tinha razão: que falta me faz um relho...
Leandro Govinda
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