terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Prisões: um mal necessário

Umas das principais promessas de campanha do presidente eleito Jair Bolsonaro era reduzir os índices de violência e acabar ou, pelo menos, diminuir a sensação de insegurança do cidadão. O tema é complexo, já que são muitas as variáveis que contribuíram para a escalada da violência, como a desestruturação das famílias, o sucateamento das polícias, a piora da educação, o consumo de drogas, entre outros. Porém, o futuro ministro da Justiça, o ex-juiz federal Sergio Moro, parece ter clareza de que o aumento da violência tem relação direta com a impunidade. Por isso, umas das suas primeiras declarações defendeu o aumento do número de vagas nos presídios. Ampliar o sistema carcerário é uma ação fundamental para se combater a violência.

O bandido é igual uma criança pequena. Quem tem filhos sabe como funciona. A criança, desde cedo, começa a testar os seus limites e a paciência dos pais. Se os pais não agem com firmeza para coibir os excessos, a criança desanda a fazer manhas para conseguir realizar os seus desejos, transformando-se em um pequeno ditador doméstico. Por meio da educação, é provável que a criança observe espontaneamente a maior parte das regras que lhe são impostas. Mas se passar dos limites, a consequência é o castigo. Na minha época, cortar a mesada, tirar o sorvete ou impedir o uso do videogame eram meios bastante eficazes para inibir maus comportamentos. Mas o castigo mais temido era, sem dúvida, ser proibido de brincar na rua! Vejam, desde a tenra infância, o ser humano tem pavor de perder a sua liberdade! Pensar em passar o fim de semana “preso” dentro de casa, em especial quando a previsão do tempo anunciava sol e calor, soava como o fim do mundo, temor suficiente para me manter na linha.

Essa coisa de explorar os próprios limites não é um desafio restrito às crianças. Os adultos também tendem a ultrapassar gradativamente os limites impostos pela convivência social para satisfazerem os seus próprios caprichos. Baseado na minha experiência profissional, posso afirmar que o delinquente não ingressa no mundo do crime cometendo infrações graves, mas sim praticando pequenos delitos. À medida que percebe a falta de consequências para o seu ato, o indivíduo se encoraja a praticar outros delitos, aumentando a gravidade da sua conduta conforme aumenta a sua experiência de impunidade. Daí porque a noção de castigo deve acompanhar o ser humano por toda a vida. Por vezes, um castigo não muito severo será suficiente para conter os ímpetos do sujeito. Porém, quando o indivíduo resiste conviver pacificamente com a sociedade, não há alternativas, se não privá-lo da sua liberdade. E aí chega-se em um dos mais graves problemas na segurança pública, que é a falta de vagas nos presídios.

Nas últimas décadas, o quadro de superlotação das cadeias públicas induziu, especialmente o Poder Judiciário, a uma política de desencarceramento de presos para reduzir as tensões e as más condições de habitação dos presídios. Desencarcerar é um eufemismo para uma política que significa simplesmente devolver bandidos ao convívio social. Na gênese, a teoria até era razoável, já que a ideia era soltar os criminosos menos ofensivos para abrir vagas para os mais perigosos. Ocorre que, com o passar tempo, os presídios passaram a abrigar somente os bandidos perigosos. Apesar dessa constatação, a política de desencarcerar continua firme e forte, só que hoje em dia solta-se um assaltante para abrigar um homicida; no outro dia, solta-se o homicida para prender um traficante; no outro, solta-se o traficante para colocar um estuprador; e por aí vai.

Essa política seria o mesmo que o sujeito tirar algumas moedas do cofrinho cheio para colocar outras moedas. Ou, então, expulsar alunos da sala de aula para abrir vaga para outros que estão fora da escola. É como enxugar gelo. O que deveria fazer o poupador que já encheu um cofrinho e deseja continuar poupando ou o administrador da escola lotada? Se ele não for daquele tipo que tropeça na grama e sai pastando, evidentemente irá adquirir um novo cofrinho e ampliar o número de vagas no sistema educacional. Ora, se os presídios estão lotados, salta aos olhos que devolver o bandido ao convívio social não é a solução. Ao contrário, livrar o bandido antes dele cumprir a sua pena só agrava o problema, já que a impunidade estimula a pratica de novos crimes, aumentando o número de clientes do sistema prisional, num círculo vicioso cujo resultado está aí para quem quiser enxergar: bandidos soltos nas ruas e cidadãos de bem presos dentro de casa. É como se o pai colocasse a criança de castigo na rua e ficasse preso dentro de casa. Não faz nenhum sentido.

Argumenta-se que nos últimos anos a violência aumentou na medida em que aumentou também a população carcerária, sugerindo-se maliciosamente que o encarceramento é um fator associado ao aumento, e não à redução, da violência. O argumento é falacioso, porque parte da premissa de que o indivíduo chega no cárcere honesto e, no presídio, se transforma em um criminoso. Se a pessoa está presa é porque, antes, cometeu um crime, ou seja, o criminoso antecede a prisão. Para desespero daqueles que defendem bandidos, a verdade é que o encarceramento é um mal necessário. Enquanto houver pessoas dispostas a cometer crimes, as prisões têm que existir. Isso não significa eliminar outras políticas de combate à violência, como a aplicação de penas alternativas para bandidos menos perigosos. Mas até para que o criminoso sinta-se estimulado a cumprir essas penas ele precisa ter no seu horizonte a expectativa de que, se não cumprir, será privado da sua liberdade.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A escola sem partido e a (in)utilidade da liberdade de ensino


Logo após a eleição retomou-se o debate sobre o projeto de lei conhecido como “escola sem partido”, que propõe coibir a doutrinação político-partidária em sala de aula. Os críticos afirmam que o projeto vai acabar com a liberdade de ensino nas escolas e universidades.

O Brasil tem umas coisas curiosas, como, por exemplo, preocupar-se com coisas inúteis. Sejamos sinceros: essa tal liberdade de ensinar não tem servido para coisa alguma. Do contrário, como explicar as notas vergonhosas da estudantada tupiniquim nos testes de avaliação? No último exame do PISA, o Brasil figurou entre os últimos colocados, atrás até de Trinidade e Tobago. Esse fracasso não é por falta de recursos financeiros, tendo em vista que o orçamento da educação só aumentou nos últimos anos e é até maior do que a média gasta por países desenvolvidos (o Brasil gasta 6% do PIB, enquanto os países da OCDE, 5,5%). O Brasil investe mais em educação do que Argentina, Colômbia, Chile e México, países hermanos que ostentam resultados mais dignos nesse exame. Então, que diabos têm feito os professores em sala de aula com a sua liberdade de ensinar?

Os professores estão tão preocupados com a sua liberdade que esqueceram que essa liberdade deve estar a serviço de um único fim, que é ensinar. O modelo atual de ensino tem servido para formar jovens revolucionários que vestem camisas com a imagem de Che Guevara, mas que não sabem somar dois mais dois e são incapazes de ler e interpretar uma simples manchete de jornal. Aparentemente, os jovens só aprendem a fazer sexo, usar drogas e escrever textões em redes sociais, com um português sofrível, diga-se de passagem.

O objetivo do projeto escola sem partido não é acabar com a liberdade de ensino, mas sim coibir o mau uso dessa liberdade. O que se busca é impedir que o professor abuse dessa liberdade e aproveite a audiência cativa dos seus alunos para doutriná-los com ideais político-partidários que nenhuma relação tem com o ensino. O projeto de lei preconiza que a educação nacional atenderá aos princípios da neutralidade política, ideológica e religiosa do estado, pluralismo de ideais, liberdade de consciência e de crença, entre outros. Ainda, proíbe o professor de favorecer ou prejudicar alunos em razão das suas convicções políticas, ideológicas, morais e religiosas, fazer propaganda político-partidária e impõe que, ao tratar de questões políticas, socioculturais e econômicas, apresente aos estudantes, de forma justa, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito. Quem pode ser contra a tais princípios e diretrizes? Só um ditador fascista.

Como se vê, o projeto não obriga o professor a enaltecer o nazismo nem proíbe que fale do socialismo, como se tem afirmado tendenciosamente. O que o projeto pretende é que o professor de história, ao tratar dos regimes totalitários do século XX, por exemplo, seja honesto com os seus alunos e não se limite a condenar os malfeitos de Hitler e Mussolini, representantes do nazismo e do fascismo, mas também conte em sala de aula sobre o genocídio de milhões de pessoas comandado por Stalin, Mao Tse Tung e Pol Pot, entre outros líderes de ditaduras socialistas. Se o professor quer falar das pessoas torturadas e desaparecidas durante os governos militares no Brasil, na Argentina e no Chile, ótimo! Mas tenha a dignidade de reservar um tempo da sua aula para lembrar das vítimas assassinadas sumariamente nos regimes comunistas de Cuba, Venezuela e Bolívia.

O que se tem hoje nas escolas é unicamente a pregação de viés esquerdista. Há muito as escolas deixaram de ser centros de ensino para se transformar em braços de partidos e centros de difusão e doutrinação de ideais vermelhos. Não há pluralismo político nem debate genuíno sobre coisa nenhuma. Os críticos da escola sem partido receiam justamente o fim do monopólio da sua pregação comunista. Com certeza muitos professores hoje terão dificuldades para expor as diversas vertentes ideológicas que permeiam o debate político, simplesmente porque foram formados em universidades contaminadas pelo discurso monolítico de esquerda. Assim, enquanto aprendem o verdadeiro sentido do pluralismo, poderiam ocupar suas aulas ensinando português e álgebra. Se conseguirem formar alunos que saibam somar e escrever os seus nomes sem tremer, já estaria de bom tamanho.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Caminho aberto para a direita envergonhada


A eleição acabou, e Bolsonaro é o presidente eleito do Brasil. Ultrapassada a etapa da campanha presidencial mais acirrada desde a redemocratização, a ponto do presidente eleito ter sido alvo de um atentado contra a sua vida, é o momento de serenar os ânimos e, distante das paixões político-partidárias, examinar o que representa verdadeiramente a eleição do Mito. Longe de um risco para a democracia, a eleição de um candidato mais a direita no espectro político representa o resgate da pluralidade de ideias, que é a essência de um regime democrático.

Para se chegar a essa conclusão, é preciso ter em mente que, por décadas, o debate político foi conduzido por intelectuais refugiados na imprensa e nas universidades a partir da instalação do regime militar em 1964. A partir da abertura na década de 80, jornalistas e professores universitários alinhados a ideologias socialistas consolidaram uma hegemonia no pensamento político nacional através de uma técnica quase terrorista de constranger e hostilizar qualquer pessoa que desafiasse discordar das suas verdades absolutistas. Esses intelectuais estabeleceram premissas que, através da repetição incessante e irrefletida, transformaram-se em dogmas. Nesse contexto, debater com um esquerdista pressupõe a aceitação do dogma,  limitando-se a discussão a questões periféricas. Ou seja, o esquerdista até aceita discutir com você, desde que você concorde com ele na essência. Assim, por exemplo, a imposição de cotas para negros nas universidades é tida como uma compensação por uma dívida histórica originária do regime escravocrata que vigorou até o fim do século XIX no Brasil. É possível discutir o percentual das cotas, se 10, 20 ou 50%, mas não se discute as cotas em si. Debater outras formas de compensação ou sugerir que não haja compensação alguma é simplesmente proibido por afrontar o dogma que se pressupõe uma verdade universal, inquestionável e, por isso, irremediavelmente aceita.  Aqueles que ousam desafiar o dogma são logo rotulados como fascistas, racistas, machistas e tantos outros “istas” tão comuns na verborragia histérica dos militantes vermelhinhos.

A patrulha ideológica que cercou o universo intelectual nacional foi tão eficiente que conseguiu calar praticamente todos os ícones liberais e conservadores, alijando-os de qualquer debate político ou acadêmico. O resultado disso foi o esvaziamento do debate, se é que se pode chamar de “debate” o monólogo travado entre os intelectuais em círculos de mútua bajulação e idolatria. O presidente eleito representa simplesmente uma abertura para o retorno ao tabuleiro político de ideais liberais e conservadores. Apesar do jeito às vezes truculento, Bolsonaro expõe as suas opiniões de maneira franca e sincera sem medo de ferir as suscetibilidades do politicamente correto. Ao agir assim, ele encoraja a direita envergonhada (obrigado Elio Gaspari!) a sair das sombras para defender as suas teorias sobre política, economia, costumes e tantos outros assuntos de interesse nacional. Não se pretende impor essas ideias goela abaixo, mas simplesmente lançá-las ao debate, quebrando a hegemonia dos tons vermelhos.

O pluralismo político é um dos fundamentos da democracia. O consenso que se estabeleceu sobre muitas questões polêmicas é mais falso que uma nota de três reais, porque foi sonegado ao público o direito de conhecer posicionamentos divergentes. Só a discussão plural permite que o observador atento tenha elementos seguros para emitir a sua opinião racionalmente, a partir da reflexão acerca de vários pontos de vista sobre temas complexos. Com a internet e as redes sociais, a esquerda, que domina as mídias tradicionais pelegas, já perdeu o controle sobre a definição da pauta de debates nacionais. O temor agora é perder também o privilégio de impor as suas ideologias sem ser importunada por inconvenientes contestadores de outro espectro político. Com a eleição do Mito, a tendência é que esses pseudoconsensos sejam revisados e muitas polêmicas, novamente discutidas. No fundo, o staff esquerdista tem medo mesmo é de uma boa discussão. Mas fiquem tranquilos, afinal uma surra de ideias não machuca ninguém.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O Supremo e as lições da mulher de César


No dia seguinte à posse do novo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Dias Toffoli, circulou na imprensa e nas redes sociais um vídeo do ministro recém empossado na festa promovida por entidades de juízes. Circundado por três mulheres e outros convidados, o ministro da suprema corte brasileira aparece com o microfone na mão cantando a música “Tempo perdido” da banda Legião Urbana. Debruçado sobre o ombro da mulher à sua esquerda e com a fala meio arrastada, o ministro parecia “distante de tudo”, como diz a letra da música....

Um estrangeiro ou um alienígena certamente ficaria chocado com as imagens. Já seria um escândalo um juiz de direito meter-se a cantar em karaokês em festa regada a bebidas alcóolicas no clube da cidade onde exerce a judicatura. Mas a moda parece que pegou mesmo no Brasil... Recentemente, circulou um vídeo da ministra Carmen Lúcia, na época também presidente do STF, entoando um sambão com a cantora Alcione, a Procurador-Geral da República e outras ilustres convidadas de um seminário promovido pelo Conselho Nacional de Justiça. Menos mal que estavam só entre mulheres e todas aparentemente sóbrias...

A conduta do ministro Dias Toffoli não é um ato criminoso. Tampouco existe proibição expressa de magistrados cantarem em público. Não se trata disso. Apenas espera-se um comportamento mais discreto de um ministro da mais alta corte do país, responsável por julgar as contendas mais importantes da nação. Ressalte-se que o ministro não estava cantando em uma festa familiar e sim em um evento muito concorrido e sabidamente coberto pela grande mídia. Inclusive, os vídeos mostram alguns celulares filmando a cena, de modo que o ministro sabia que a sua performance fatalmente teria ampla publicidade. E pouco importa se fosse particular, já que o estatuto da magistratura impõe aos juízes o dever de manter conduta irrepreensível na vida pública e privada. Ora, ninguém é obrigado a ser juiz. Mas, quando faz essa escolha, está ciente de que o seu comportamento, público e privado, está sujeito a restrições. É como a mulher de César: não basta ser, tem que parecer. E quando o ministro aparece nas redes sociais daquele jeito não é crível que muitas pessoas o reconheçam como ministro do STF. Pior ainda se reconhecerem, pois seria a prova de que a imagem do Supremo foi mesmo para o brejo.

Mas alguém aí está surpreso?

Até hoje não se compreende como Dias Toffoli virou ministro da suprema corte. Diz a Constituição que um ministro deve ter notável saber jurídico e reputação ilibada. Está lá no ignorado art. 101 da dita carta cidadã. Bem, reputação ilibada até pode ser subjetivo, a depender do caráter de quem julga. Mas notável saber jurídico é um critério bem mais objetivo. Supõe-se que não basta ser bacharel em Direito, do contrário o requisito seria ter diploma de qualquer dessas faculdadezinhas de Direito espalhadas nos rincões do Brasil. Também não basta ser sapiente nas coisas das lei. É preciso que esse saber jurídico seja notável. O dicionário ensina que notável é algo digno de nota, de atenção, que merece louvor, de grande importância, extraordinário! Veja-se: extraordinário! Qual era a notabilidade do saber jurídico de Dias Toffoli? Não se sabe até hoje... Tratava-se um renomado professor? Não. Quem sabe um jurista reconhecido por obras prestigiadas no meio acadêmico? Tampouco. Então, ele já era mestre, doutor ou Phd por alguma universidade? Nada. Das mais de 60 páginas do seu currículo disponível na página do STF colhe-se uma única formação acadêmica: bacharel em Direito. Como profissional foi um notório advogado do Partido dos Trabalhadores, o que certamente lhe rendeu a oportunidade de ocupar alguns cargos públicos, dentre os quais o mais proeminente foi Advogado-Geral da União (AGU) no governo do ex-presidente Lula, hoje condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro. Até virar ministro de estado, não tinha nenhuma obra jurídica publicada. No mais, sabe-se também que tentou ser juiz de carreira, mas foi reprovado no concurso um par de vezes.

Apesar disso, virou juiz da mais alta corte do país e, pelos próximos dois anos, será o seu presidente. Se já não preenchia o requisito fundamental para ser ministro, imagina se teria outros predicados não exigidos, como a máxima discrição. A cantoria na festa de posse não deveria ser surpresa para ninguém.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Licença para atirar

Tempos atrás circulou um vídeo nas redes sociais que mostra um policial chileno disparando contra um indivíduo dentro de um veículo à noite no aeroporto de Santiago, porque o cidadão não respeitou uma ordem de parada e avançou lentamente com o veículo sobre o policial. Na manhã seguinte, o Presidente da República chilena veio a público defender a ação policial. Em seu pronunciamento, o Presidente afirmou de forma "forte e clara": "ninguém tem direito de resistir pela força uma detenção, um controle de trânsito ou um controle de identidade e muito menos pretender atropelar um policial... Chegou a hora de que todos aprendamos a respeitar as nossas autoridades, a respeitar os nossos policiais, porque, quando eles são mais respeitados e mais protegidos, cumprem com maior eficácia seu trabalho de proteger a todos os cidadãos do nosso país". No mesmo sentido, foi a manifestação do congressista chileno Alessandri, segundo o qual, "não há meias tintas, ou se está a favor da autoridade, da ordem e do respeito ou se está contra... se nosso país tirar aos poucos a autoridade do policial, depois não poderemos nos queixar de que ninguém respeita nada e não se pode mais caminhar tranquilos pelas ruas".

Ah...que inveja dos hermanos! No Brasil, enquanto as autoridades brasileiras continuam discutindo se o policial pode ou não atirar contra bandidos, mais quatro militares, dessa vez das forças de intervenção federal no Rio de Janeiro, morreram, três em operação e o quarto em uma emboscada em um bar.

Ao que parece, essas pessoas são incapazes de compreender a extensão dos conflitos que envolvem as organizações criminosas. Não se trata de violência pura e simples. Vive-se nas metrópoles brasileiras uma guerra civil não declarada contra o poder de polícia que ameaça a própria soberania do estado. As favelas transformaram-se em territórios ocupados por esses bandidos nos quais eles reinam como soberanos absolutos, porque fixam as suas leis, cobram os seus tributos, organizam as suas milícias, distribuem serviços públicos, controlam a entrada e a saída das pessoas, estabelecem os seus tribunais de julgamento, aterrorizam e ameaçam a população sob o seu jugo, tudo como se fosse uma nação independente, um país dentro do país. O policial que sobe o morro para combater o crime, em especial o tráfico de drogas, entra em uma batalha e coloca em risco a própria vida para restabelecer a paz e a ordem nessas comunidades dominadas por facções criminosas. Os chefões do tráfico já perceberam que estão em guerra. Por isso, têm a sua disposição um exército de bandidos rigidamente hierarquizados, cegamente obedientes aos altos comandantes e armados com fuzis e metralhadoras, prontos para dispararem contra qualquer um que se coloque contra os seus interesses.

O policial que se depara com um bandido armado tem sim licença para atirar, pois está em uma clara situação de exercício da sua legítima defesa, entendida como o uso moderado dos meios necessários para repelir injusta agressão, atual ou iminente. Ora, iminente é aquilo que está para acontecer. E o delinquente que porta uma arma de fogo representa sem dúvida uma iminente e injusta agressão. Ou alguém acha que esse marginal porta um fuzil para caçar passarinhos? Claro que não. O bandido usa a arma de fogo para matar gente, portanto bandido armado é uma ameaça constante, perene. Por isso, é um disparate afirmar que o policial tem que esperar o bandido atirar primeiro para só então reagir. Se o bandido atira, a agressão passa a ser atual, quiçá letal, e não mais iminente. Só que a legítima defesa não é apenas contra agressão atual; a agressão iminente já justifica a reação defensiva. Então, por que diabos o policial tem que esperar bovinamente ser alvejado por um tiro para só então defender a própria vida? Um cristão lançado aos leões no Coliseu antigo teria mais chances de sobreviver.

A ameaça do motorista chileno era infinitamente menor do que a ameaça dos narcotraficantes dos morros cariocas. As autoridades chilenas defenderam a ação do policial, porque não há mesmo “meias tintas”: ou se respeita a autoridade, ou tudo está perdido. É verdade que a polícia brasileira é a que mais mata no mundo, mas não é menos verdade que os policiais brasileiros são os que mais morrem em combate também. Nessas condições, coibir o exercício da legítima defesa pelo policial, mais do que prestar homenagem ao bandido em detrimento da autoridade do estado, significa lançá-lo covardemente em missões suicidas.



sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O país de mentirinha


Nessa semana, encerrou-se o prazo para os pretensos candidatos a cargos públicos nas eleições de outubro registrarem os pedidos de candidatura nos tribunais eleitorais. E o Partido dos Trabalhadores pediu o registro da candidatura de Lula à presidência, mesmo absolutamente consciente de que o seu líder não pode ser candidato, pois foi condenado criminalmente por órgão colegiado da justiça, no caso o Tribunal Regional Federal.

Já é assente que Lula não pode ser candidato, pois a Lei da Ficha Limpa veda a candidatura a cargos eletivos de pessoas condenadas criminalmente em segunda instância. (Um parêntese para explicar aos estrangeiros que foi necessária uma lei para impedir os brasileiros de elegerem e reelegeram por livre e espontânea vontade candidatos corruptos.) Pode-se até discutir se a condenação de Lula foi justa ou injusta, se havia ou não provas, se lhe foi garantido ou não o direito de defesa no curso da ação penal. É indiscutível, porém, que ele foi condenado criminalmente em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. O seu julgamento foi transmitido ao vivo pelas emissoras de rádio e de TV para o mundo inteiro. Este fato é inconteste. E é igualmente indiscutível que a lei veda a candidatura de qualquer pessoa nessa condição. Está lá escrito no art. 1º, inciso I, alínea "e", itens 1 e 6, da Lei Complementar n. 64/1990. Trata-se de uma norma de clareza solar, como dizem os juristas. Não há zona cinzenta. É preto ou branco!

Mas é claro que no Brasil tudo é passível de discussão. Ninguém acha nada claro, especialmente as nossas autoridades. Como tudo é discutível, nada é levado a sério.

A ideia dos correligionários de Lula é tentar tapear a justiça eleitoral apresentando as certidões criminais expedidas apenas pela justiça do domicílio do candidato, que, no caso, é cidade de São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo. Como a sua condenação é originária do Paraná, a certidão do juízo paulista é negativa. Não sendo do conhecimento do juiz eleitoral a condição de condenado, fica-se na dependência do Ministério Público, de um partido político ou de outro candidato formular uma impugnação noticiando a condição ficha-suja, momento em que se instaura o devido processo legal para se oportunizar a defesa do candidato impugnado.

Porém, no caso de Lula, a sua condenação criminal é fato público e notório. Até os macacos da Amazônia e os jacarés do Pantanal sabem disso. Segundo uma das regras mais comezinhas do processo civil, os fatos públicos e notórios não precisam ser provados. Logo, os Ministros do Tribunal Superior Eleitoral não podem fingir que desconhecem essa obviedade. O que se esperava que fosse feito? Tratando-se de um fato público e notório e considerando-se que a regra é clara, como diz o Arnaldo, era natural que a pretensão de Lula fosse sumariamente rechaçada. A coisa poderia ser resolvida em um parágrafo contendo um silogismo básico: pessoas condenadas criminalmente por órgão colegiado não podem ser candidatas; Lula foi condenado criminalmente pelo Tribunal Regional Federal; logo, Lula não pode ser candidato. Registro negado. Fim da história. Simples assim.

Natural em um país sério. Não no Brasil. Aqui, espera-se uma impugnação, concede-se prazo para a defesa, ouve-se o Ministério Público, realiza-se instrução processual, faz-se julgamentos e blábláblá... Tudo isso para, ao final, chegar-se à conclusão que todo mundo - ministros, advogados, partidos, correligionários e até o próprio candidato - já conhece: Lula não pode concorrer à presidência e a nenhum outro cargo eletivo.

O circo montado em torno do registro da candidatura de Lula é mais um espetáculo farsesco para uma população perplexa diante de autoridades simplesmente incapazes de agirem frente ao óbvio. Trata-se de mais uma prova de que o Brasil é um país de mentirinha.

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Sobre chefes e caminhoneiros

Os transtornos causados pela greve dos caminhoneiros após pouco dias de paralisação me lembram a anedota da disputa pela chefia do corpo humano.

Segundo o conto, certa vez, os órgãos do corpo humano reuniram-se em assembleia para decidir quem seria o chefe dessa tão engenhosa engrenagem. O primeiro a se candidatar foi o cérebro, dizendo-se o regente de todos os demais órgãos. O coração se insurgiu afirmando que ele deveria chefiar, já que era o responsável pelo bombeamento do sangue e oxigenação de todo o corpo, inclusive do cérebro. Cada órgão reclamava a sua importância para o organismo. Lá pelas tantas até o ânus se apresentou como de suma importância para o organismo. Todos os demais órgãos riram da pretensão do ânus de ser chefe. Chateado com tanto desprestígio, o ânus resolveu fazer greve e bloquear a saída traseira do corpo humano. No início, nenhum órgão se preocupou. Porém, passados alguns dias, o intestino grosso começou a reclamar da falta de espaço para armazenar o estoque e pediu aos demais órgãos para reduzirem a produção. A mercadoria começou a subir para o intestino delgado, que também começou a esboçar preocupação. Mais alguns dias e um mal estar generalizado se instala, contrações estomacais iam e voltavam constantemente, náuseas, suor, dores de cabeça, tontura, fraqueza... Diante da calamidade que se avizinhava, alguns órgãos já começavam a negociar com o ânus a liberação da saída. No entanto, o ânus se mantinha firme em sua reivindicação de ser o chefe. Vendo que não haveria modo de convencer o ânus, os órgãos se reuniram novamente e, por unanimidade, aclamaram o ânus chefe do corpo humano. Moral da estória: todo chefe é um c...

No primeiro dia de paralisação dos caminhoneiros, houve quem até se alegrasse com o esvaziamento das estradas. O trânsito nas rodovias ficou tranquilo e nenhum motorista rodando a 80km/h precisava se preocupar com o risco de se tornar um supositório de uma Scannia. No segundo dia, alguns piquetes e bloqueios chamaram a atenção, mas nada que chegasse a preocupar o cidadão que não precisava ir para o litoral no fim de semana. Na manhã do terceiro dia, donas de casa notam a falta de frutas e legumes frescos nos cestos das feiras e supermercados. Os comerciantes alegam que os caminhões não entregaram os pedidos. Ao meio-dia, os telejornais noticiam o risco de desabastecimento. Hospitais anunciam racionamento de medicamentos. No final da tarde, o plantão da Rede Globo informa que alguns postos de combustíveis já estão com os tanques vazios. À noite, consumidores fazem filas para abastecer seus veículos. Alguns postos aumentam o preço da gasolina até o triplo e limitam o abastecimento por cliente. Enquanto isso, nos supermercados, os consumidores enchem os carrinhos com arroz, feijão, massas, chocolate, água, pilhas, lanternas, bússolas, entre outros gêneros de emergência. No quarto dia, as escolas suspendem as aulas devido a falta de combustível para os ônibus escolares. As prefeituras reduzem o número de coletivos em circulação para economizar diesel. As concessionárias de água anunciam racionamento, pois temem que os produtos químicos usados para o tratamento da água não sejam distribuídos. Ao meio-dia, o Presidente da República convoca uma reunião com o Conselho de Defesa Nacional e determina que as estradas sejam desbloqueadas imediatamente pelo exército. O Comandante das Forças Armadas alega que os tanques e caminhões militares não têm combustível para chegar a todos os pontos de bloqueio. O Presidente conclama a população a usar bicicletas e patinetes e anuncia um Plano Nacional Emergencial de Recuperação das Ferrovias. Nos estados, os governadores pedem que a população fique dentro de casa e fechem as portas, pois as viaturas policiais não têm mais combustível para fazer rondas, só para atender casos de urgência. A cavalaria é convocada para sair às ruas e tentar conter a baderna, mas o comando adverte que os animais logo voltarão para as baias, porque o estoque de ração está no fim e os carregamentos de entrega estão presos nas filas das estradas. Em Santa Catarina, as autoridades estaduais, vendo que o clima ficou pesado, resolvem delegar à defesa civil as negociações com os grevistas (hein?!). Supermercados e lojas começam a ser saqueados. Vizinhos começam a invadir as casas uns dos outros em busca de alimentos e água. Vândalos tocam fogo em diversos pontos da cidade. Os bombeiros não conseguem atender porque também estão sem combustível. A população civil sente a falta que fazem as balas de borracha e as bombas de gás. Em Brasília, deputados e senadores se desesperam com o risco iminente de terem que passar o final de semana na capital federal por conta do cancelamento dos vôos comerciais, sem festas, sem jantares, sem acompanhantes, sem passeios no lago. Os telefones na FAB não param de tocar com parlamentares e lobistas implorando carona nos jatos oficiais. O Presidente da República embarca com a sua família para o Paraguai, única rota possível considerando a autonomia de vôo do avião presidencial. Pelo menos um deputado foi visto agarrado no trem de pouso do avião no momento da decolagem.

Diante desse caos, o presidente nacional do sindicato dos caminhoneiros invade o Palácio do Governo no dia que ficou conhecido como a tomada do Planalto, e se autoproclama presidente da nova república dos caminhoneiros. O vice-presidente jura fidelidade ao novo governo. Ministros do Supremo Tribunal reconhecem a legitimidade do golpe. Como primeira medida, o novo governo anuncia a redução do preço dos combustíveis e elege a ex-primeira dama Marcela Temer como nova musa dos caminhoneiros em substituição a Sula Miranda. Está decidido: o chefe, agora, é caminhoneiro.

terça-feira, 8 de maio de 2018

A falácia socialista

Os seres humanos não são iguais. Ao contrário, somos em tudo diferentes: na aparência, no modo de pensar, nos sonhos, nos objetivos de vida.

Quando estava na faculdade de Direito, ouvia que um jovem que não fosse socialista não tinha coração, enquanto um adulto que continuasse socialista não tinha cérebro. Enquanto universitário, custava a acreditar nessa quase premonição. Como todo jovem de bom coração, eu também acreditava nos ideais socialistas, em especial no mito da igualdade. Por isso, alimentava a vã esperança de que era possível construir uma sociedade igualitária. Mas, inevitavelmente, a gente vai crescendo e virando adulto. E como adulto comecei a perceber algumas evidências do falacioso discurso socialista.

Dia desses, a pretexto de conhecer mais sobre a história da Alemanha, país que me interessa visitar, assisti a um documentário do canal History Channel sobre a construção e a queda do muro de Berlim, disponível no YouTube. Muito educativo para quem deseja obter uma mostra da ruína representada pelo regime socialista. O muro, como quase todos devem saber, foi construído para marcar a divisão das duas Alemanhas após a segunda guerra mundial. Na verdade, descobri nesse documentário que o muro servia para isolar a Berlim ocidental do mundo socialista. A Alemanha foi dividida, mas Berlim ficou inteiramente na porção oriental. Como se tratava da capital alemã, os aliados quiseram também dividi-la. Assim, a cidade ficou metade capitalista, metade socialista. O problema é que muitos cidadãos residentes na metade socialista começaram a achar que era uma boa ideia mudar para o lado capitalista. Começou uma demandada geral, o que gerou o risco de colapso da economia da recém-nascida República “Democrática” Alemã (que de democrático só tinha o nome, obviamente), pois a mão-de-obra necessária para a reconstrução da nação socialista estava preferindo fugir para prestar seus serviços para a concorrente nação capitalista.

Essa parte poucos professores de história ensinam para os estudantes secundaristas. Mas eis aí uma boa evidência acerca do fracasso político e econômico dos regimes socialistas. Ora, bastou ser instalado o regime socialista na porção oriental da Alemanha para que os alemães, que não são burros, resolvessem migrar para a porção ocidental. Claro que nem todos quiseram fazer essa opção. Fora aqueles que não o fizerem por medo de serem alvejados por balas disparadas por algum dos milhares de soldados que vigiavam o muro, por certo muitos acreditaram que ficar sob a ditadura socialista era uma boa opção. Todavia, por mais que a propaganda da ditadura da República “Democrática” Alemã tentasse convencer os cidadãos sob o seu jugo de que o regime socialista era melhor, foi necessário construir um muro, ornamentá-lo com cercas de arame farpado, fazer barricadas, instalar minas terrestres e colocar dezenas de milhares de soldados para impedir a saída daqueles que resistiam acreditar na propaganda oficial. Se o regime fosse tão bom quanto aparecia na propaganda, a tendência seria justamente o inverso: todo mundo ia querer se mudar para o lado oriental. O estranho é que esse movimento migratório inverso não acontecia, ou seja, ninguém do lado capitalista queria se mudar para o lado socialista. Hmm.. interessante...

Note-se que essa migração em massa ainda hoje é uma marca dos países socialistas. Certamente os leitores sabem que tem muita gente querendo fugir de Cuba, da Venezuela, da Bolívia e da Coréia do Norte para viver nos países capitalistas. Na fronteira do Brasil com a Venezuela, o movimento de imigração de cidadãos venezuelanos já criou um problema sério para os governos locais, que não sabem o que fazer com essa população, na maioria formada por pessoas sem qualquer qualificação e que, por isso, geram mais prejuízos do que benefícios para a nação.

Mas por que os indivíduos fogem do socialismo como o diabo da cruz? O socialismo não é sinônimo de uma vida justa e igual para todos? Por que, então, as pessoas querem fugir do “paraíso” socialista e se meter no “inferno astral” do mundo capitalista?

Eu arrisco um palpite: a igualdade, que é o pressuposto e o fim do regime socialista, não existe. Os seres humanos não são iguais. Ao contrário, somos em tudo diferentes: na aparência, no modo de pensar, nos sonhos, nos objetivos de vida. Uns são magros, outros são gordos, uns são baixos, outros, altos; tem gente que gosta de viver na praia, e outros preferem o campo. Eu gosto de rock n’ roll e não compreendo como alguém pode gostar de funk ou eletrônica. Apesar disso, não posso proibi-las de apreciarem o seu som, afinal gosto não se discute. Simplesmente aceito que as pessoas não são iguais e, portanto, têm gostos, aptidões e desejos diferentes. Sendo assim, qualquer regime que tente igualar as pessoas só pode dar errado, pois força elas serem o que não são.

Por outro lado, há algo em comum nas pessoas que reconheci a partir da minha experiência como Promotor de Justiça lidando com os piores tipos de indivíduos, como estupradores de crianças. Apesar de serem a escória da humanidade, tenho que admitir que uma coisa nos identifica (e é só isso, que fique muito claro): o apreço que temos pela liberdade. Homicida, estupradores, ladrões, corruptos, traficantes são criminosos que diferem muito nos seus objetos de desejo e no modo de agir, mas todos, sem exceção, almejam a sua liberdade quando estão presos.

É essa liberdade que as ditaduras socialistas e comunistas negam para os seus cidadãos. Inclusive, a liberdade de escolher entre ficar ou partir. E não é por outro motivo que invariavelmente os cidadãos sob o domínio desses regimes tentam fugir para os países capitalista. O que essas pessoas buscam é o direito de serem livres para perseguirem os seus próprios objetivos e traçarem o seu próprio destino, buscando aquilo que elas e só elas julgam ser sua realização pessoal e a causa da sua felicidade. O resto é conversa fiada.