quinta-feira, 31 de maio de 2018

Sobre chefes e caminhoneiros

Os transtornos causados pela greve dos caminhoneiros após pouco dias de paralisação me lembram a anedota da disputa pela chefia do corpo humano.

Segundo o conto, certa vez, os órgãos do corpo humano reuniram-se em assembleia para decidir quem seria o chefe dessa tão engenhosa engrenagem. O primeiro a se candidatar foi o cérebro, dizendo-se o regente de todos os demais órgãos. O coração se insurgiu afirmando que ele deveria chefiar, já que era o responsável pelo bombeamento do sangue e oxigenação de todo o corpo, inclusive do cérebro. Cada órgão reclamava a sua importância para o organismo. Lá pelas tantas até o ânus se apresentou como de suma importância para o organismo. Todos os demais órgãos riram da pretensão do ânus de ser chefe. Chateado com tanto desprestígio, o ânus resolveu fazer greve e bloquear a saída traseira do corpo humano. No início, nenhum órgão se preocupou. Porém, passados alguns dias, o intestino grosso começou a reclamar da falta de espaço para armazenar o estoque e pediu aos demais órgãos para reduzirem a produção. A mercadoria começou a subir para o intestino delgado, que também começou a esboçar preocupação. Mais alguns dias e um mal estar generalizado se instala, contrações estomacais iam e voltavam constantemente, náuseas, suor, dores de cabeça, tontura, fraqueza... Diante da calamidade que se avizinhava, alguns órgãos já começavam a negociar com o ânus a liberação da saída. No entanto, o ânus se mantinha firme em sua reivindicação de ser o chefe. Vendo que não haveria modo de convencer o ânus, os órgãos se reuniram novamente e, por unanimidade, aclamaram o ânus chefe do corpo humano. Moral da estória: todo chefe é um c...

No primeiro dia de paralisação dos caminhoneiros, houve quem até se alegrasse com o esvaziamento das estradas. O trânsito nas rodovias ficou tranquilo e nenhum motorista rodando a 80km/h precisava se preocupar com o risco de se tornar um supositório de uma Scannia. No segundo dia, alguns piquetes e bloqueios chamaram a atenção, mas nada que chegasse a preocupar o cidadão que não precisava ir para o litoral no fim de semana. Na manhã do terceiro dia, donas de casa notam a falta de frutas e legumes frescos nos cestos das feiras e supermercados. Os comerciantes alegam que os caminhões não entregaram os pedidos. Ao meio-dia, os telejornais noticiam o risco de desabastecimento. Hospitais anunciam racionamento de medicamentos. No final da tarde, o plantão da Rede Globo informa que alguns postos de combustíveis já estão com os tanques vazios. À noite, consumidores fazem filas para abastecer seus veículos. Alguns postos aumentam o preço da gasolina até o triplo e limitam o abastecimento por cliente. Enquanto isso, nos supermercados, os consumidores enchem os carrinhos com arroz, feijão, massas, chocolate, água, pilhas, lanternas, bússolas, entre outros gêneros de emergência. No quarto dia, as escolas suspendem as aulas devido a falta de combustível para os ônibus escolares. As prefeituras reduzem o número de coletivos em circulação para economizar diesel. As concessionárias de água anunciam racionamento, pois temem que os produtos químicos usados para o tratamento da água não sejam distribuídos. Ao meio-dia, o Presidente da República convoca uma reunião com o Conselho de Defesa Nacional e determina que as estradas sejam desbloqueadas imediatamente pelo exército. O Comandante das Forças Armadas alega que os tanques e caminhões militares não têm combustível para chegar a todos os pontos de bloqueio. O Presidente conclama a população a usar bicicletas e patinetes e anuncia um Plano Nacional Emergencial de Recuperação das Ferrovias. Nos estados, os governadores pedem que a população fique dentro de casa e fechem as portas, pois as viaturas policiais não têm mais combustível para fazer rondas, só para atender casos de urgência. A cavalaria é convocada para sair às ruas e tentar conter a baderna, mas o comando adverte que os animais logo voltarão para as baias, porque o estoque de ração está no fim e os carregamentos de entrega estão presos nas filas das estradas. Em Santa Catarina, as autoridades estaduais, vendo que o clima ficou pesado, resolvem delegar à defesa civil as negociações com os grevistas (hein?!). Supermercados e lojas começam a ser saqueados. Vizinhos começam a invadir as casas uns dos outros em busca de alimentos e água. Vândalos tocam fogo em diversos pontos da cidade. Os bombeiros não conseguem atender porque também estão sem combustível. A população civil sente a falta que fazem as balas de borracha e as bombas de gás. Em Brasília, deputados e senadores se desesperam com o risco iminente de terem que passar o final de semana na capital federal por conta do cancelamento dos vôos comerciais, sem festas, sem jantares, sem acompanhantes, sem passeios no lago. Os telefones na FAB não param de tocar com parlamentares e lobistas implorando carona nos jatos oficiais. O Presidente da República embarca com a sua família para o Paraguai, única rota possível considerando a autonomia de vôo do avião presidencial. Pelo menos um deputado foi visto agarrado no trem de pouso do avião no momento da decolagem.

Diante desse caos, o presidente nacional do sindicato dos caminhoneiros invade o Palácio do Governo no dia que ficou conhecido como a tomada do Planalto, e se autoproclama presidente da nova república dos caminhoneiros. O vice-presidente jura fidelidade ao novo governo. Ministros do Supremo Tribunal reconhecem a legitimidade do golpe. Como primeira medida, o novo governo anuncia a redução do preço dos combustíveis e elege a ex-primeira dama Marcela Temer como nova musa dos caminhoneiros em substituição a Sula Miranda. Está decidido: o chefe, agora, é caminhoneiro.

terça-feira, 8 de maio de 2018

A falácia socialista

Os seres humanos não são iguais. Ao contrário, somos em tudo diferentes: na aparência, no modo de pensar, nos sonhos, nos objetivos de vida.

Quando estava na faculdade de Direito, ouvia que um jovem que não fosse socialista não tinha coração, enquanto um adulto que continuasse socialista não tinha cérebro. Enquanto universitário, custava a acreditar nessa quase premonição. Como todo jovem de bom coração, eu também acreditava nos ideais socialistas, em especial no mito da igualdade. Por isso, alimentava a vã esperança de que era possível construir uma sociedade igualitária. Mas, inevitavelmente, a gente vai crescendo e virando adulto. E como adulto comecei a perceber algumas evidências do falacioso discurso socialista.

Dia desses, a pretexto de conhecer mais sobre a história da Alemanha, país que me interessa visitar, assisti a um documentário do canal History Channel sobre a construção e a queda do muro de Berlim, disponível no YouTube. Muito educativo para quem deseja obter uma mostra da ruína representada pelo regime socialista. O muro, como quase todos devem saber, foi construído para marcar a divisão das duas Alemanhas após a segunda guerra mundial. Na verdade, descobri nesse documentário que o muro servia para isolar a Berlim ocidental do mundo socialista. A Alemanha foi dividida, mas Berlim ficou inteiramente na porção oriental. Como se tratava da capital alemã, os aliados quiseram também dividi-la. Assim, a cidade ficou metade capitalista, metade socialista. O problema é que muitos cidadãos residentes na metade socialista começaram a achar que era uma boa ideia mudar para o lado capitalista. Começou uma demandada geral, o que gerou o risco de colapso da economia da recém-nascida República “Democrática” Alemã (que de democrático só tinha o nome, obviamente), pois a mão-de-obra necessária para a reconstrução da nação socialista estava preferindo fugir para prestar seus serviços para a concorrente nação capitalista.

Essa parte poucos professores de história ensinam para os estudantes secundaristas. Mas eis aí uma boa evidência acerca do fracasso político e econômico dos regimes socialistas. Ora, bastou ser instalado o regime socialista na porção oriental da Alemanha para que os alemães, que não são burros, resolvessem migrar para a porção ocidental. Claro que nem todos quiseram fazer essa opção. Fora aqueles que não o fizerem por medo de serem alvejados por balas disparadas por algum dos milhares de soldados que vigiavam o muro, por certo muitos acreditaram que ficar sob a ditadura socialista era uma boa opção. Todavia, por mais que a propaganda da ditadura da República “Democrática” Alemã tentasse convencer os cidadãos sob o seu jugo de que o regime socialista era melhor, foi necessário construir um muro, ornamentá-lo com cercas de arame farpado, fazer barricadas, instalar minas terrestres e colocar dezenas de milhares de soldados para impedir a saída daqueles que resistiam acreditar na propaganda oficial. Se o regime fosse tão bom quanto aparecia na propaganda, a tendência seria justamente o inverso: todo mundo ia querer se mudar para o lado oriental. O estranho é que esse movimento migratório inverso não acontecia, ou seja, ninguém do lado capitalista queria se mudar para o lado socialista. Hmm.. interessante...

Note-se que essa migração em massa ainda hoje é uma marca dos países socialistas. Certamente os leitores sabem que tem muita gente querendo fugir de Cuba, da Venezuela, da Bolívia e da Coréia do Norte para viver nos países capitalistas. Na fronteira do Brasil com a Venezuela, o movimento de imigração de cidadãos venezuelanos já criou um problema sério para os governos locais, que não sabem o que fazer com essa população, na maioria formada por pessoas sem qualquer qualificação e que, por isso, geram mais prejuízos do que benefícios para a nação.

Mas por que os indivíduos fogem do socialismo como o diabo da cruz? O socialismo não é sinônimo de uma vida justa e igual para todos? Por que, então, as pessoas querem fugir do “paraíso” socialista e se meter no “inferno astral” do mundo capitalista?

Eu arrisco um palpite: a igualdade, que é o pressuposto e o fim do regime socialista, não existe. Os seres humanos não são iguais. Ao contrário, somos em tudo diferentes: na aparência, no modo de pensar, nos sonhos, nos objetivos de vida. Uns são magros, outros são gordos, uns são baixos, outros, altos; tem gente que gosta de viver na praia, e outros preferem o campo. Eu gosto de rock n’ roll e não compreendo como alguém pode gostar de funk ou eletrônica. Apesar disso, não posso proibi-las de apreciarem o seu som, afinal gosto não se discute. Simplesmente aceito que as pessoas não são iguais e, portanto, têm gostos, aptidões e desejos diferentes. Sendo assim, qualquer regime que tente igualar as pessoas só pode dar errado, pois força elas serem o que não são.

Por outro lado, há algo em comum nas pessoas que reconheci a partir da minha experiência como Promotor de Justiça lidando com os piores tipos de indivíduos, como estupradores de crianças. Apesar de serem a escória da humanidade, tenho que admitir que uma coisa nos identifica (e é só isso, que fique muito claro): o apreço que temos pela liberdade. Homicida, estupradores, ladrões, corruptos, traficantes são criminosos que diferem muito nos seus objetos de desejo e no modo de agir, mas todos, sem exceção, almejam a sua liberdade quando estão presos.

É essa liberdade que as ditaduras socialistas e comunistas negam para os seus cidadãos. Inclusive, a liberdade de escolher entre ficar ou partir. E não é por outro motivo que invariavelmente os cidadãos sob o domínio desses regimes tentam fugir para os países capitalista. O que essas pessoas buscam é o direito de serem livres para perseguirem os seus próprios objetivos e traçarem o seu próprio destino, buscando aquilo que elas e só elas julgam ser sua realização pessoal e a causa da sua felicidade. O resto é conversa fiada.