Advogados que perdem prazos e médicos
que esquecem tesouras no estômago dos pacientes são profissionais cada vez mais
comuns no mercado brasileiro. Para completar o time de incompetências só faltava engenheiros que não sabem fazer contas.
Pois o desabamento de um viaduto em construção em Belo Horizonte indica que a
escalação agora está completa.
Ainda não se sabe qual foi a
causa do desastre ocorrido em Minas, mas algumas hipóteses já foram aventadas e
todas revelam o que todo o mundo já sabe: o sistema de ensino brasileiro está
cada dia mais imprestável. A primeira suspeita é de que pode ter havido um erro
de cálculo. Mas não é o “cálculo” uma das principais disciplinas das engenharias?
Imagino que hoje já existem até softwares capazes de fazerem esses cálculos,
mas deve ser preciso alimentar o programa com informações sobre a construção.
Se o erro foi mesmo de cálculo, então nem isso o engenheiro soube fazer... Pode
ter sido problema de solo. Sim, agora, o problema é o chão. Não sou engenheiro
e meus conhecimentos dessa ciência limitam-se àqueles programas que passam na
TV a cabo de megaconstruções, mas o estudo do solo não seria a primeira coisa a
ser feita antes de começar uma obra? Aparentemente, o engenheiro também faltou
a essa aula na faculdade. Finalmente, também se cogita de ausência de
fiscalização. De novo, fiscalizar a obra não é responsabilidade do engenheiro,
que deve verificar se o pedreiro está colocando a coluna, a viga e o tijolo nos
lugares certos? Provavelmente, o engenheiro se formou sem ter sido ensinado
sobre as suas responsabilidades profissionais.
A tragédia ocorrida em Belo
Horizonte causa tristeza, mas não surpreende. Em um país onde professores
apanham de alunos, porque há muito perderam a autoridade de que eram investidos;
onde crianças passam de ano sem saber ler ou escrever, porque a estatística é
mais importante do que o aprendizado; onde o governo financia o estudo superior
de analfabetos funcionais, porque o único requisito de mérito para receber uma
bolsa integral é fazer o ENEM e não zerar na redação; onde vender monografias de
faculdade virou um filão de mercado, porque centenas, quiçá milhares de
acadêmicos, a par da malandragem, não têm preparo suficiente para escrever uma
linha de texto coerente e sem erro de crase; onde um presidente da república
orgulhava-se por não ter estudado; em um país onde tudo isso é encarado com
normalidade, não chega a ser surpresa que, ano após ano, as faculdades despejem
no mercado profissionais aventureiros, incompetentes e irresponsáveis.
Até o acidente de Belo Horizonte,
tinha a impressão de que a engenharia era o último reduto de ensino de
qualidade no Brasil. Agora, nem isso. Pelo sim, pelo não, melhor andar longe
das marquises, afinal nunca se sabe quem foi o engenheiro que projetou a
estrutura, quem será o médico que atenderá a vítima em caso de acidente e quem
será o advogado que a representará em eventual ação de indenização.
Leandro Govinda