quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Os desafios da educação
O lema do segundo mandato da Presidente Dilma é “Brasil, Pátria Educadora”. Segunda a mandatária da nação, a educação será uma prioridade no seu governo e buscará formar o cidadão com compromissos éticos e sentimentos republicanos. A proposta é ótima, mas, como toda carta de intenções, dependerá de ações práticas para se transformar em realidade. E os desafios na área não são poucos nem simples, já que as décadas de abandono criaram uma situação dramática no ensino brasileiro.
O despreparo dos estudantes já não é novidade para ninguém. Mede-se isso pelos resultados vergonhosos dos alunos brasileiros em exames oficiais. No Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que reúne 65 países, o Brasil sempre disputa as últimas colocações, atrás de países como o Vietnã, Cazaquistão e os vizinhos latino-americanos Uruguai e México. Pelo menos ganhamos da Argentina. O último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve um resultado catastrófico: mais de meio milhão de estudantes tiraram “zero” em redação. Além de exames teóricos, pode-se apurar o baixo nível de aprendizado dos estudantes também na prática, observando-se a qualidade do trabalho dos estagiários. Já vi estagiário de graduação escrever “suspenÇão”. E mais de um estagiário já cometeu erros grosseiros como esses, alguns de modo reiterado. Infelizmente, a cada ano que passa, o nível piora...
A deterioração do ensino nas últimas décadas está provocando um fenômeno novo e muito mais preocupante: a “onda” de alunos despreparados está formando uma geração de professores igualmente despreparados. A lógica é muito simples: como a educação em todos os níveis, desde a básica até a universitária, é de uma qualidade sofrível, os professores formados nessa rede de ensino obviamente não terão condições de lecionar muitas coisas, já que ninguém ensina o que não sabe. E aí tem início um perigoso círculo vicioso: professores que não ensinam, formam alunos que não aprendem. E os alunos que não aprendem, viram professores que não ensinam... Os bons professores, que estudaram no tempo em que a escola ainda ensinava alguma coisa, estão se aposentando. E a nova geração de professores será formada por essa turma de alunos que tiraram nota “zero” na redação e que não sabem a diferença do “S” para o “Ç”. Se essa tendência não se reverter, logo o Brasil vai precisar importar mestres alemães ou japoneses para dar aulas. A dificuldade será encontrar quem ensine português para esses estrangeiros lecionarem por aqui... Talvez importar também professores de Portugal... Como se vê, o sinal de alerta passou do amarelo para o vermelho.
Como na vida nada é tão ruim que não possa piorar, esse quadro é agravado pelo fato de que, em geral, os pais de alunos acreditam que a escola dos filhos é boa. Na rede pública, se o aluno recebe uniforme, material escolar, merenda e transporte é um indicativo de que está tudo bem. Na rede privada, o simples fato de pagar pelo ensino faz presumir que o serviço prestado é de boa qualidade. Ora, se os pais, que são os maiores interessados na educação dos filhos, acreditam que vai tudo bem na escola, fica difícil fazer uma reforma de verdade no sistema de ensino. Por isso, não basta um lema para revolucionar a educação no Brasil. O maior desafio do governo é parar de “tapar o sol com a peneira” e reconhecer logo que o ensino é um lixo. Depois, será preciso convencer a sociedade disso, a fim de que se torne uma aliada na promoção das mudanças que se fazem necessárias para melhorar a qualidade da educação no país.
Em tempo: o governo federal lançou uma consulta pública para a criação de um programa de valorização de diretores de escolas públicas de educação básica municipais, estaduais e federais de todo país. São três perguntas simples: 1) Como você avalia a importância de um diretor de escola de Educação Básica? 2) Como você entende que pode ser valorizado o papel do diretor de escola de Educação Básica? e 3) Gostaria de registrar alguma sugestão ou comentário acerca do tema? Acesse o site até o dia 02/03 e dê a sua contribuição: http://pddeinterativo.mec.gov.br/diretorprincipal/index.php.
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