quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A (in)utilidade das pesquisas eleitorais




Os resultados das eleições em primeiro turno desmoralizaram uma vez mais os institutos de pesquisa, tendo em vista a discrepância entre as estatísticas pré-eleitorais e a apuração das urnas. Quando isso acontece (e isso sempre acontece), convém indagar: qual é a utilidade, sob o ponto de vista cívico, da divulgação sistemática de pesquisas de opinião? Sendo mais claro: qual é o interesse do eleitor em saber quem são os candidatos que estão à frente ou na rabeira?

Uma escolha consciente deve ser baseada no exame das propostas dos candidatos, ou no histórico do pretendente ao cargo público, ou mesmo na afinidade pessoal ou profissional entre o eleitor e o candidato. Pode-se até admitir que alguém seja influenciado por pessoas próximas. Um familiar, um amigo ou um colega de trabalho pode tentar convencer um cidadão a votar nesse ou naquele candidato, a partir da exposição de argumentos a favor de um ou contra outro, tudo isso colocado em um debate franco e que envolve efetivamente os interessados. As escolhas feitas com base nesses critérios são legítimas e saudáveis.

Por outro lado, não parece honesto induzir o eleitor a escolher o seu candidato com base na opinião generalizada de pessoas cuja identidade ele não conhece e cujos critérios de seleção para entrevista são ignorados. Mas é exatamente isso que acontece quando se divulga as pesquisas de opinião antes das eleições. Essas pesquisas não promovem o debate de ideias, não apontam o candidato mais preparado, não expõem os vícios dos concorrentes, enfim não trazem nenhuma efetiva contribuição para a construção de uma escolha consciente. Simplesmente induzem as pessoas a votar conforme a opinião de uma suposta, hipotética e, não raro, falsa maioria, como comprovam os erros estatísticos reiterados. Quer dizer, o eleitor é transformado em um “maria vai com as outras”. Com base nessas estatísticas, tenta-se convencer o eleitor a dar um voto útil, como se não fosse útil votar no candidato que, de fato, representa o pensamento do eleitor, ainda que esse candidato não tenha chance de ganhar. Isso seria o mesmo que alguém, ao invés de torcer para o seu time do coração, torcesse para um outro clube, unicamente porque esse outro clube é favorito ao título. Não faz sentido. Há aí uma evidente e maldosa manipulação da opinião pública.

Não tenho dúvidas de que as pesquisas têm utilidade, mas para os candidatos, não para os eleitores. Os resultados das pesquisas podem ajudar os partidos e coligações a definir os rumos da campanha ou mudar a sua estratégia, a fim de conquistar o voto da parcela indecisa ou reduzir a rejeição de determinado grupo social. Se é assim, então os partidos e os candidatos podem encomendar pesquisas e serem informados dos resultados. Mas essa informação não precisa ser divulgada aos quatro ventos, como é feito atualmente.

Votar em um candidato não é o mesmo que apostar em uma corrida de cavalos, quando interessa ao apostador saber qual é o animal favorito. Assim, talvez seja hora de se iniciar um debate sério sobre os efeitos da divulgação ampla de pesquisas de opinião sobre a (de)formação da vontade geral da nação. Se essa publicidade só serve mesmo para manipular a convicção dos eleitores, trata-se de um instrumento antidemocrático e, como tal, deveria ser abolido, a fim de não prejudicar a formação consciente e autêntica da opinião do eleitor.

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