Os resultados das
eleições em primeiro turno desmoralizaram uma vez mais os institutos de
pesquisa, tendo em vista a discrepância entre as estatísticas pré-eleitorais e
a apuração das urnas. Quando isso acontece (e isso sempre acontece), convém
indagar: qual é a utilidade, sob o ponto de vista cívico, da divulgação
sistemática de pesquisas de opinião? Sendo mais claro: qual é o interesse do
eleitor em saber quem são os candidatos que estão à frente ou na rabeira?
Uma escolha
consciente deve ser baseada no exame das propostas dos candidatos, ou no
histórico do pretendente ao cargo público, ou mesmo na afinidade pessoal ou
profissional entre o eleitor e o candidato. Pode-se até admitir que alguém seja
influenciado por pessoas próximas. Um familiar, um amigo ou um colega de
trabalho pode tentar convencer um cidadão a votar nesse ou naquele candidato, a
partir da exposição de argumentos a favor de um ou contra outro, tudo isso colocado
em um debate franco e que envolve efetivamente os interessados. As escolhas
feitas com base nesses critérios são legítimas e saudáveis.
Por outro lado, não
parece honesto induzir o eleitor a escolher o seu candidato com base na opinião
generalizada de pessoas cuja identidade ele não conhece e cujos critérios de
seleção para entrevista são ignorados. Mas é exatamente isso que acontece
quando se divulga as pesquisas de opinião antes das eleições. Essas pesquisas
não promovem o debate de ideias, não apontam o candidato mais preparado, não
expõem os vícios dos concorrentes, enfim não trazem nenhuma efetiva
contribuição para a construção de uma escolha consciente. Simplesmente induzem
as pessoas a votar conforme a opinião de uma suposta, hipotética e, não raro, falsa
maioria, como comprovam os erros estatísticos reiterados. Quer dizer, o eleitor
é transformado em um “maria vai com as outras”. Com base nessas estatísticas,
tenta-se convencer o eleitor a dar um voto útil, como se não fosse útil votar
no candidato que, de fato, representa o pensamento do eleitor, ainda que esse
candidato não tenha chance de ganhar. Isso seria o mesmo que alguém, ao invés
de torcer para o seu time do coração, torcesse para um outro clube, unicamente
porque esse outro clube é favorito ao título. Não faz sentido. Há aí uma
evidente e maldosa manipulação da opinião pública.
Não tenho dúvidas
de que as pesquisas têm utilidade, mas para os candidatos, não para os
eleitores. Os resultados das pesquisas podem ajudar os partidos e coligações a
definir os rumos da campanha ou mudar a sua estratégia, a fim de conquistar o
voto da parcela indecisa ou reduzir a rejeição de determinado grupo social. Se
é assim, então os partidos e os candidatos podem encomendar pesquisas e serem
informados dos resultados. Mas essa informação não precisa ser divulgada aos
quatro ventos, como é feito atualmente.
Votar em um
candidato não é o mesmo que apostar em uma corrida de cavalos, quando interessa
ao apostador saber qual é o animal favorito. Assim, talvez seja hora de se
iniciar um debate sério sobre os efeitos da divulgação ampla de pesquisas de
opinião sobre a (de)formação da vontade geral da nação. Se essa publicidade só
serve mesmo para manipular a convicção dos eleitores, trata-se de um instrumento
antidemocrático e, como tal, deveria ser abolido, a fim de não prejudicar a
formação consciente e autêntica da opinião do eleitor.
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