quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A triste escolha por exclusão



No próximo domingo, milhões de brasileiro vão às urnas escolher os próximos presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Há menos de uma semana do pleito, ainda não se discutiu uma agenda de reformas. Promessas, como de costume, são muitas: mais educação, mais saúde, mais segurança, mais investimentos, mais empregos, mais crescimento... Mais de tudo! Aparentemente, os candidatos ignoram que, para promover o desenvolvimento do país e alcançar todos esses “mais”, são necessárias reformas estruturais, que dependem de um planejamento de longo prazo e de mudanças legislativas, inclusive na Constituição. Na propaganda política ou nos debates, gostaria de saber se alguém ouviu algum candidato responder às seguintes indagações:

Educação. O sistema de ensino brasileiro está falido, isso todo mundo sabe. E tudo mundo também sabe que é necessário melhorar.  Mas qual é o plano, então? Não adianta só falar em valorizar os professores, construir mais escolas, aprimorar o currículo escolar. Isso é discurso. O que será feito efetivamente para valorizar o professor? Aumentar os salários? Premiar os professores que alcançarem os melhores resultados em termos de aprendizado dos seus alunos? Capacitar os mestres? Oferecer condições dignas de trabalho, reduzindo o tamanho das turmas? E quais serão as mudanças do currículo? Quais disciplinas serão incluídas e quais serão excluídas da grade básica? E o sobre o método de ensino, não será necessário adequá-lo ao mundo contemporâneo? E o sistema de aprovação automática, aquele que independe da nota do aluno, vai continuar sendo adotado? E a escola em tempo integral, o que pensam os candidatos sobre isso? A federalização do ensino básico é a solução?

Reforma tributária. Aqui só se ouve falar em pacto federativo. O que isso significa afinal? Qual é a proposta dos candidatos para tornar mais eficiente o sistema de cobrança e reduzir a carga tributária? Hoje em dia, o sonegador de tributos não é processado criminalmente se pagar ou parcelar suas dívidas. Isso vai continuar assim? Aliás, continuar-se-á a premiar os inadimplentes com a oferta periódica de refinanciamentos de dívidas, como foi feito em 2000, 2003, 2006 e 2009? E quais tributos serão reduzidos, unificados ou mesmo extirpados da nossa legislação? Quais setores da economia serão desonerados ou sobretaxados? Qual é a ideia para redistribuir o produto da arrecadação entre União, Estados e Municípios?

Emprego. A CLT data de 1943, ou seja, há mais de setenta anos. Não é possível continuar, em pleno século XXI, aplicando uma legislação desenvolvida durante a segunda guerra mundial. Apesar dessa constatação óbvia, nenhum candidato apresentou um projeto de modernização das leis trabalhistas. Quais direitos serão flexibilizados? Será reconhecida a autonomia de empregados e empregadores para definir alguns aspectos do contrato individual de trabalho? Teve um candidato que até insinuou propor mudanças nessa área, mas foi veementemente condenado por outro concorrente, que já disse que vai deixar tudo como está. Ou seja, mais empregos não passa de uma vã promessa...

Segurança pública. Alguns candidatos falam em reduzir a maioridade penal; outros falam em integração das polícias. Ok. E a legislação penal, que também nasceu nos idos da década de 40 do século passado, não será reformada? Matar continuará sendo punido só com 6 anos, enquanto roubar é punido com 4 anos? Quais serão as mudanças propostas para acelerar a tramitação das ações penais, a fim de acabar com a famigerada impunidade? Algum candidato pensou em propor um limite para os infinitos recursos previstos na legislação?

Serviço público. Nesse quesito, os candidatos são uníssonos: mais eficiência! Tudo bem. Como? Será finalmente regulamentado o art. 41, III, da Constituição Federal, que prevê a exoneração de servidor estável que não desempenhe a contento as suas funções? A sociedade será ouvida nas avaliações de desempenho do servidor, afinal o cidadão é o destinatário dos serviços prestados, não é? Será implantado o ponto eletrônico em todas as repartições públicas para controlar a assiduidade dos servidores? Serão definidas metas de resultados para cada setor da Administração?

Enfim, esses são só alguns dos temas cruciais para o desenvolvimento do país, mas que foram pouco ou nada debatidos na campanha eleitoral. É lamentável observar os candidatos discutirem quem irá distribuir mais esmolas ao povo através de programas assistencialistas, como o bolsa-família. Nesse contexto, infelizmente não se escolhe um candidato avaliando-se o melhor programa de governo. Escolhe-se, por eliminação, o menos pior. Futuro triste de um país que elege seus governantes por exclusão.

Leandro Govinda

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