sexta-feira, 4 de abril de 2014

Alienação mental universitária


Os atos de resistência à recente ação policial no interior do campus da Universidade Federal de Santa Catarina demonstram a alienação mental de parte dessa comunidade universitária.

Tudo começou com uma ação rotineira da polícia federal que, a pedido da própria Reitora da universidade, visava combater o tráfico de drogas no campus. No curso da ação, policiais identificaram pessoas que estariam na posse de drogas para consumo pessoal. Ao ver essas pessoas serem conduzidas até a Delegacia para lavratura do termo circunstanciado (procedimento esse determinado por lei – para quem sabe ler, confira o art. 48, §2º, da Lei 11.343/2006), alguns estudantes reagiram e tentaram impedir a ação policial, que consideraram desarrazoada e violenta, chegando ao cúmulo de depredar e virar uma viatura e outro carro da segurança da universidade. Essa reação desmiolada e inconsequente pode caracterizar, em tese, os crimes de resistência, desacato, desobediência e dano duplamente qualificado, todos tipificados no Código Penal e com penas que variam de 6 meses até 3 anos de prisão. Depois da confusão, esses mesmos estudantes invadiram a Reitoria (que, de tão costumeiramente invadida, já virou a casa da mãe Joana), fumaram os seus cigarrinhos e ainda tiveram disposição para substituir a bandeira nacional, hasteada no mastro da praça central do campus, por uma bandeira vermelha, uma verdadeira afronta a um dos símbolos da República.

Desde tempo imemoriais alimenta-se no imaginário coletivo o mito de que a autonomia universitária garante uma imunidade quase diplomática para quaisquer ações, inclusive criminosas, perpetradas no interior da universidade. O terreno da UFSC é considerado um “território federal”, como se “federal” não significasse pertencente à União, mas sim a algum ente estrangeiro ou, quem sabe, extraterrestre ou divino. Daí porque algumas divindades que lá ensinam e estudam consideram um absurdo a polícia federal, um órgão da União, “invadir” o intangível campus sem pedir autorização para o seu líder-mor, o Magnífico Reitor.

Realmente, essa parcela da comunidade acadêmica só pode mesmo ser alienada, porque parece viver no mundo da lua. Como bem ressaltou o delegado federal responsável pela operação, Paulo César Cassiano Júnior, autonomia universitária não é licença para baderna. A autonomia universitária garantida pela Constituição Federal significa apenas e tão somente liberdade para pensar e produzir ideias, administrar os recursos e gerir o patrimônio, que, vale lembrar, é público, porque mantido e custeado pelo dinheiro dos impostos pagos por toda a sociedade brasileira. As universidades não são entes soberanos alheios à Constituição e às leis do país, de modo que essa autonomia não é um passe livre para se fazer o que quiser dentro do campus. E esses estudantes, que são alienados, mas não são burros, conhecem muito bem as suas responsabilidades, por isso trataram logo de arrancar da Reitora o compromisso de que não fosse instaurado nenhum tipo de processo administrativo ou criminal contra os envolvidos na ação policial e na ocupação do prédio da Reitoria, como se o Reitor fosse investido de poderes próprios das autoridades policiais, judiciárias e do Ministério Público e pudesse dar a eles um salvo-conduto (documento disponível na página do “movimento” Levante do Bosque no Facebook).

A permissividade e a complacência com a irresponsabilidade no seio da universidade não chega a surpreender, já que a frouxidão moral que acomete a sociedade brasileira estimula esse tipo de mansidão bovina. O que chama a atenção é a indiferença dessa estudantada em relação às ações da polícia de combate ao tráfico de drogas, quando realizadas nas periferias, o que acontece diuturnamente. Talvez porque a periferia seja muito distante do campus e aí bate uma preguiça danada para se deslocar até lá para fazer manifestação. Nada de “Levante da Favela”. Nem uma mísera bandeirinha vermelha é erguida em protesto. Às favas qualquer solidariedade, só sobra o ensurdecedor silêncio da alienação mental daqueles que ou ignoram a realidade da sociedade na qual vivem ou só estão mesmo preocupados com os próprios umbigos.

Leandro Govinda

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