quarta-feira, 1 de julho de 2015

Carta de Jesus para Gregorio Duvivier


Prezado Duvivier,

Outro dia reproduziste uma carta que eu teria enviado para um pastor. Fiquei um pouco chateado, especialmente quando afirmas que “sou de esquerda”. Acho que foste tu quem não leu direitinho a minha biografia. Veja bem: entre os maiores expoentes da esquerda estão Lenin, Stalin, Mao Tsé-Tung, Pol Pot e, mais recentemente, Hugo Chavez. Não esqueço o Fidel, mas esse ainda está por aí. As ditaduras esquerdistas desse pessoal foram responsáveis pelo maior genocídio da história da humanidade. Há quem diga que foram assassinados quase cem milhões de indivíduos. Só o Pol Pot matou um quarto dos seus conterrâneos no Camboja. No Brasil, isso seria equivalente a mais ou menos cinquenta milhões de pessoas. Não é pouca gente. Não tenho muito contato com essa turma, afinal eles não vieram para o céu, mas sei que alguns deles são cultuados e adorados até hoje por companheiros.

Eu não sou de esquerda, nem de direita, nem de centro. Aliás, na minha época, essas noções significavam tão somente a posição do corpo. É verdade que eu andava descalço. Fazia isso para provar que uma pessoa não precisa de muito para viver. Eu era desapegado desses bens materiais. Sempre preferi cultivar a força do espírito. Eu andava com os pobres, mas andava com os ricos também. O Lázaro, um homem que nunca passou necessidades, foi um amigão meu. Volta e meia eu sentava à mesa com ele para comer. Nunca julguei alguém por ser rico. Aliás, nunca julguei ninguém. Eu ensinei justamente o contrário: “não julgue para não ser julgado”. Nem os coletores de tributos, que eram tão odiados na minha época (e até hoje, pelo que percebo). Uma vez perguntaram se o povo devia pagar impostos, e eu respondi bem claro: “dai a César o que é de César”.

Eu sempre andei com todo o tipo de gente, sadios e leprosos, mulheres virgens e prostitutas, ricos e pobres, pois acredito que as pessoas são iguais. Sempre foi assim. Agora, a física quântica está provando isso que eu já enxergava há dois mil anos. Antes tarde do que nunca! Ser igual, no entanto, não significa que eu deva cultivar os mesmos hábitos. Respeito as prostitutas, mas nem por isso vendo o meu corpo. Respeito os ricos, mas não almejo acumular riqueza. Respeito os ladrões, mas roubar não serve para mim. Respeito os homossexuais, mas acredito que algumas partes do corpo tem uma função bem definida. Por isso não entendo essa obsessão em querer induzir as pessoas, mesmo as criancinhas, a fazerem o que alguns fazem.

Sugerir que eu defendo uma ideologia responsável por governos ditatoriais, que não respeitam a vida e a liberdade das pessoas é, no mínimo, ofensivo. Logo eu que sempre preguei a compaixão e o respeito ao próximo. A propósito, lembras dos dez mandamentos, aquelas dez regrinhas que o Moisés a muito custo escreveu na pedra? Está lá na minha biografia também. Para facilitar a compreensão, eu resumi em apenas dois: amar a Deus sobre todas as coisas e amar as pessoas como a nós mesmos. Eu escrevi isso porque, na minha cabeça, alguém que ama ao próximo não mata, não estupra, não sequestra e não rouba. O problema é que tem gente que não gosta de gente. Esses matam, estupram, sequestram, roubam e cometem outras barbaridades. Mesmo assim eu ensinei que as pessoas devem perdoar umas às outras, porque todo mundo pode cometer erros.

Agora, perdoar não significa deixar uma ação impune. A ideia de punir também está lá na minha biografia. Há muitos e muitos anos, pessoas foram condenadas sumariamente à pena de morte por afogamento. Foi numa época em que a promiscuidade e a maldade tinham tomado conta do mundo. Veio um dilúvio e matou todo mundo, homens, mulheres e crianças. Só o Noé, a sua família e os animais foram salvos. Eu achei isso um exagero. Como falei, sou contra a matança de pessoas, seja por ordem da esquerda, da direita ou divina. Mas quem sou eu para julgar?

Enfim, eu não vivo mais entre vocês, por isso minha opinião não deve ter lá muita serventia. Mas de qualquer forma aí vai a minha visão: em um mundo ideal, as pessoas que cometem um erro deveriam se arrepender e serem perdoadas, porque o arrependimento regenera a pessoa, e o perdão impede a proliferação do ódio. Esse sistema funciona bem aqui em cima. Agora, vocês aí embaixo não vivem em um mundo ideal. Só se arrepender e ser perdoado não vai funcionar. Vocês vivem em uma sociedade que têm regras jurídicas, que precisam ser respeitadas para que vocês vivam em paz. Quem viola uma regra deve ser punido. Pergunte aos romanos, eles entendem bastante de Direito. Uma regra sem sanção não tem efetividade alguma. A punição é um modo de inibir as pessoas de repetir o erro. Errar é humano, mas o problema é repetir o erro, porque aí já é burrice. E acredite: o ser humano é meio burro.


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